A Eleição como Boa-Nova


E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. Assim que daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo. Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação; Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamos-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus. Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus.” 2 Co 5.14-21

A eleição e temas como a predestinação, livre-arbítrio, condenação, salvação são os que ainda geram mais polêmicas e debates nos centros de teologia. Escuto sempre nos corredores dos lugares onde dou aula essas discussões e não consigo deixar de perceber a infantilidade em torno de tudo.

Quando tais debates chegam às comunidades geram confusão e guerras doutrinárias. De fato anuncia-se uma mensagem que não traz nenhum alento para a alma, seja ela de ordem agostiniana, pelagiana, calvinista, arminiana, ou as semi - algumas delas.
Já li de tudo, e vejo que em todas as exposições não há um anúncio de Boa-Nova. Até entre os convictos calvinistas, não vejo nada além de submissão há uma doutrina no mínimo estranha, diante da revelação de Jesus Cristo.

O problema dessas “teologias” é que colocam a eleição como um meio e no meio de um processo que é iniciado no que chamam de mistério soberano, ou seja, num estado vazio, de que nada sabemos. Desta forma ficamos sem saber o que move a Deus em relação à eleição, quando na verdade a eleição está no começo, melhor, antes do começo, de qualquer coisa que se possa dizer sobre a relação de Deus com suas criaturas.

“O Cordeiro foi imolado antes da fundação do mundo” (1 Pe 1.18-20;Apc 13.8). Essa é a Boa-Nova, a real mensagem de salvação, a saber, Deus desde a eternidade decidiu ser Deus na forma dessa Graça para com os homens, e não de outra maneira. Desta forma podemos dizer que a Graça é, pois o começo de todas as obras de Deus que em Jesus nos foi revelada.

A eleição nos fala a respeito deste Deus de Graça, falando de outra forma, não há criatura que não tenha sua origem e existência nessa Graça. Isso de fato é uma Boa-Nova, e este é o conteúdo do Evangelho, o anúncio do sim de Deus, a revelação do Seu amor e de sua Graça aos pecadores. Em Jesus Cristo, desde a eternidade, no ato da eleição, Deus tem voltado seu rosto, de modo gracioso para os homens. Nele, Deus não é contra, mas por nós e pelo mundo. O sacrifício de Cristo não é um meio para levar a cabo a salvação de alguns, mas a própria salvação manifesta Nele de todos os homens. (Ef 1)

E onde ficaria a ira de Deus?- perguntam-me alguns. Ela se encontra no Filho. Nele a ira se acende, o juízo é pronunciado e a punição afligida, e a rejeição toma seu lugar. Assim, por meio do Não ao Filho (Mc 14.36) houve um Sim aos homens (2 Co 1.20). Em Jesus Cristo podemos crer na certeza que Deus não abandona a obra de Suas mãos.

Na Eleição em Cristo, Deus tem dado ao homem a eleição e escolhido para Si a rejeição. Deus se faz objeto de seu próprio juízo severo, condenação e morte que merecíamos, e não mais se dirige aos homens de outra forma que não seja Graça. Nossa rejeição foi vista Nele e em nós já não é mais.

Crer de outra forma é perverter a Graça e pisar o sangue da aliança (Hb 10.29). Crer de outra forma é a negação do amor de Deus, é a tentativa de fazer ressurgir a já não mais existente inimizade com Deus. Ora, isso é impossível, porém deixa o indivíduo num estado existencial de inimizade, vivendo a virtualidade da inimizade, quando a realidade já é de reconciliação.

Eleição, então, não nos fala de um negro segredo, mas de uma Graça revelada. Como homem eleito, Cristo, em sua própria humanidade, é o Deus que a todos elege Nele. Assim, o impossível aos homens foi possível por causa de Deus (Mt 19.26).

Cabe aos discípulos de Jesus contar ao mundo essa Boa-Nova, anunciar a todos a reconciliação, e por meio dela chamar a todos a obediência como fruto da alegria, do reconhecimento do amor de Deus, a fim de que experimentemos a liberdade para qual Cristo nos libertou (Gl 5.1).

Ivo Fernandes
3 de março de 2009

Comentários

Unknown disse…
NÃO CONSIGO ENTENDER OS TEÓLOGOS QUE QUEREM CRITICAR,CUSPIR NO PRATO EM QUE COMERAM.FALAREM DE AGOSTINHO, CALVINO, LUTERO, HOMENS QUE O MUNDO NÃO ERA DIGNO, E QUE FIZERAM TODA A DIFERENÇA DENTRA DO PENSAMENTO CRISTÃO, POIS TODOS OS OUTROS, INCLUINDO OS LIBERAIS BEBERAM EM SEUS CALICES.
SE DISCUTIR A ELEIÇÃO É INFANTILIDADE, NOSSOS PAIS SÃO TÃO INFANTIS OU ATE MAIS INFANTIS DO QUE NÓS.
SOBRE A ELEIÇÃO É DIFICIL PARA O HOMEM ENTENDER QUE ALGUNS DE NOSSOS ENTES MAIS QUERIDOS, AMIGOS, PESSOAS QUE AMAMOS, IRÃO PARA O INFERNO, POIS O HOMEM NÃO QUER ACEITAR QUE UM DEUS DE AMOR TAMBÉM É UM DEUS DE IRA, NÃO ESSA IRA PECAMINOSA, MAS A IRA QUE PROCEDE DA JUSTIÇA DIVINA. DIZER QUE TODOS ESTÃO ELEITOS EM CRISTO, É AFIRMAR QUE TODOS, IRÃO ALCANÇAR A SALVAÇÃO, ISSO É RASGAR A BIBLIA E ZOMBAR DE DEUS.
PRECISAMOS LER MAIS O PROFETA SOFONIAS, QUANDO ELE AFIRMA QUE O GRANDE E TERRIVEL DIA DO SENHOR SE APROXIMA.SERA TERRIVEL PARA AQUELES QUE NÃO SÃO ELEITOS POR DEUS, E SIM FORAM REPROVADOS POR ELE.
SOLA GRATIA
Ivo Fernandes disse…
Resposta

Meu amigo Natanael, lhe chamo de amigo, porque de fato o tenho assim até aqui.

Respeito sua posição de reformado, e ao contrário do que você disse em seu texto-resposta, não cuspo no prato que comi, mas não estou obrigado a comer da mesma comida sempre, aliás, foram justamente aqueles que você chama de Pais, que ensinaram a arte de pensar protestante.
Os citados de fato foram gigantes na teologia, e nunca discutiram esses temas como hoje é discutido, que para mim, sim, são de forma infantil.
Não escrevo para discutir, ou até mesmo, para tentar mudar o pensamento de ninguém. Neste ponto, de fato, pensamos diferente.
Poderia dizer que seguindo estes pensamentos, contrariamos outros grandes pensadores, como Karl Barth, Paul Tillich, Emill Bruner, Nieburh, Bultmann, Cullmaan, Moltmann, Bonhoeffer, Chardin, Balthasar, entre outros. E o que faz aqueles melhores que estes?
Cada viva com a coerência que lhe pede seu pensamento.
Espero que quanto a nós, nossos pensamentos jamais atrapalhem aquilo que de fato é bom, a amizade entre dois homens que não tem medo de pensar.

Sola Gratia
Unknown disse…
PASTOR IVO,MEU AMIGO, A TI DEVOTO MINHA ADMIRAÇÃO.TE ADIMIRO PELO QUE TU ÉS, POR SUA CORAGEM DE PENSAR, QUE ME IMPULSIONA A FAZER O MESMO.
SOBRE O ASSUNTO EM QUESTÃO,RESPEITO SUA OPNIÃO, MAS COMO BOM REFORMADO QUE SOU NÃO CONSIGO ACEITÁ-LA, MAS NISSO ESTA UMA DAS BELEZAS DOS VERDADEIROS SERVOS DE CRISTO, MESMO COM SUAS DIFERENÇAS O AMOR PREVALECE, PIIS O AMOR É SIMBOLO DAQUELES QUE VIVEM NO CAMINHO."COMO PODE ALGUEM ODIAR SEU IRMÃO E AMAR A DEUS?"
ABRAÇOS
SOLA GRATIA

Postagens mais visitadas