Na mesa dos fracos


Muitas pessoas próximas a mim já aceitam meu silêncio, meu isolamento, minha caminhada solitária na praia. Já sabem que meu silêncio tem um quê de tristeza, mas também de paz.

No passado busquei os triunfalistas, os fortes, os que pareciam não desabar diante das tragédias e os que nunca duvidavam, porém minha alma sempre se identificou com os fracos, com os que choram e com os que duvidam.

Antes tentei possuir as respostas para perguntas, hoje humildemente confesso que não sei. Tenho muitas certezas, mas não a Certeza, tenho muitas verdades, mas não a Verdade.

Sei que muitos me questionarão sobre minha fé. Afinal que fé é essa que convive com a dúvida e com a fragilidade humana que se confessa perdida? A única coisa que posso dizer é que o Pai conhece a pequenez de seu filho.

No passado tive seguidores e vários admiradores. Era cercado por pessoas que me viam como modelo, como referência. Vi quase todos saindo pelas portas, não suportaram minha queixa, meu pesar, meu lamento, meu pecado.

Quando me vi sozinho voltei então à praia onde caminho em minha solidão. Meus pés foram de novo molhados pela água do mar, meu corpo envolvido pelo vento e meus ouvidos ouviram de novo o som do silêncio. Pude novamente sentar-me a beira mar e chorar e saber-me apenas como sou.

Mas no fundo sei que não estou só, existe uma multidão de irmãos que diante do mesmo mar sentem-se impotentes, pequenos, pobres.

Escuto misteriosamente a Voz que diz: - Não temais, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino.

Ivo Fernandes
18 de fevereiro de 2010

Comentários

Eduardo Medeiros disse…
Sabe, às vezes tenho uma certa inveja daqueles crentes que não possuem nenhuma dúvida de nada. Tudo está bem resolvido para eles. Aceitam os pressupostos da doutrina sem questionar.

E é aí que vejo que eles assim procedem exatamente porque têm medo de questionar. A dúvida existe, lá no fundo, mas se contentam em dizer "mistério".

Em meu ser, só tenho uma certeza: deus existe em mim. Agora, a "cara" que cada um dá a ele, é a cara que cada um dá a ele.

Você não está só. Abração
Anônimo disse…
Caro Ivo, uma grata surpresa conhecer o seu blog. E posso lhe dizer que subscrevo cada palavra sua escrita neste ensaio.

Forte abraço.

P.S. E aí, primo, conhecia o blog e nem me contou? Abraço.
Anônimo disse…
Querido Ivo,

Eu me sinto exatamnte como você. E eu te admiro justamente porque você tem a coragem de andar na prais e na vida sem máscaras. Em muitas igrejas isso é proibido, pois você certamente será rejeitado se for transparente e confessar a sua humanidade.

Continue assim, por favor!!

Débora

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