Amo o Mistério


Ontem caminhava pela praia, enquanto o sol começa a desaparecer. Esse rito é sagrado. Sim! Desde a minha infância foi caminhando pela praia onde minhas orações foram feitas, é meu lugar santo, meu espaço de encontro. Horas de silêncio, rompidos por uma frase, que se acompanha de uma música e que são envoltos pelo som do Vento e das águas. Enquanto meus pés são alcançados pelas ondas que se desfazem, minha alma é derramada diante do Mistério.

Ontem enquanto caminhava lembrei os meus últimos dois anos. Fiz uma retrospectiva da caminhada. Sempre me espanto como o meu caminho se desenrolou. Olhar para trás me enche da certeza que não possuo certeza alguma a não ser aquela que procede da fé.

Estava ali diante de do Mistério dizendo que O amava. Nunca vi, nunca ouvi, nunca senti com os sentidos, mas misteriosamente nada é mais presente em mim do que o Ausente. Amo o impossível, amo o impensável.

Não sei quem é Deus, já me cansei das explicações teológicas com bases aristotélicas. Não suporto o deus da guerra dos religiosos fundamentalistas. O deus que cabe nas construções filosóficas considero ridículo. Também já não busco o distante, o deus que olha tudo de um lugar secreto, de onde controla todas as coisas e que é explicado por categorias elitistas. Um deus menos misericordioso que eu mesmo, por mim não será adorado. Creio no Deus Mistério que é Amor que habita o coração dos homens de boa vontade.

Ivo Fernandes
18 de janeiro de 2010

Comentários

Esdras Gregório disse…
Estava presisando de uma intuiçao para escrever sobre isso, li seu texto até o meio e começei escrver espontaneamete, quando terminei, descobri que falamos a mesma coisa com palavras diferentes:

Não é por não crer com a razão que o mundo foi projetado por Ele, que meu coração vai se render a explicações que limitam o mistério da existência como graça e presente inexplicável do Espírito da vida.

Não é por não vê-lo como Deus em seus dogmas que o sintetizam para minha mente que minha alma vai se satisfazer com o conhecimento da idéia da pura necessidade inata nos seres de uma explicação para a vida.

Toda e qualquer teoria e explicação da origem do mundo até agora é tão ridícula e pequena diante da grandeza e beleza da existência dos elementos e seres que compõe a saga da existência a sua culminância na essência da fé daqueles que observam estupefatos o milagre gratuito da vida.

Assim como toda e qualquer tentativa de explicar Deus é grotesca diante da fonte que possibilitou a possibilidade das tentativas conscientes de compreensão e definições racionais. Dizê-lo que ele tem ou não consciência, que ele decide ou é inalterável em sua profundeza é trazê-lo para um campo da lógica aonde o coração não mais pode senti-lo.

Nada, e nem uma explicação podem mais provar sua existência, mas não mais vê-lo por trás de tanta vida, grandeza e composição se tornou impossível para um coração rendido diante do mistério divino inexplicável da origem da vida.
Evandro Junior disse…
Quanto nihilismo existencial! Quanto fideísmo! Quanta “auto-confusão”!
Deparei-me com esse texto e tive que me contentar em ver tanto misticismo(neo-paganismo) e descontentamento incoerente num só lugar. O interessante é a aversão a qualquer padrão e/ou estrutura teologica, mas, conforme já observei aqui nesse blog, você tambem possui sua propria “estrutura”(Kantiana, Caio Fabianista, Eclética, Ecumenica, Universalista, Alexandrina...) diretamente influenciada por Barth e varias tranqueiras modernistas. Você me dirá que essa visão é biblica, mas nas suas proprias palavras, podemos dizer: não! é sua estrutura filosofica. Você diz que não conhece Deus. Eu lamento muito! E lamento tambem o seu irracionalismo, que retira de cena qualquer base para qualquer coisa, até para a afirmação do não ser, do não existir. Como você garante que existe ou, que agora nesse momento não está num sonho? Que existe um Deus? Baseado em quê?
Se Deus é menos misericordiso que o homem, ainda bem, pois o seu padrão é bem diferente do nosso. O homem sente pena, dó, mas Deus é diferente de nós. E isso não é menos misericórdia, menos graça, menos amor, pelo contrario, é tudo isso, com a perfeição divina. Deus é menos misericordioso, somente nos padrões da criatura caída e humanista, que quer julgar a Deus segundo as suas moldes influenciados pelo pos-modernismo, marxismo e antropocentrismo. Ele é justiça e misericordia por definição. E tudo o que faz(ainda que o homem diga que não é) é justo, por que dEle só procede justiça e bondade.
Dizer que não conhece Deus, com essas suas caracteristicas “descaracterizadas “, não é piedade, é ateísmo prático. Não é misterio, é antiintelctualismo filosofico, ou preguiça de pensar e medo de se decidir para não se contrariar com aquilo que faz tanto bem ao “deus eu”!
O comentario é criteriosamente específico.

Evandro Junior.
http://emdefesadagraca.blogspot.com/
Ivo Fernandes disse…
Evandro,
Pensei em comentar seu comentário de maneira criteriosa e específica, mas porque me assemelhar a você. Afinal o que pensas do que penso é apenas um pensamento, a mim pouco acrescenta não porque não aprenda com o pensamento dos outros, mas porque não há nada de novo no seu discurso. Muitas foram as classificações, talvez possa de fato estar associado a maioria delas, ou não, quem saberá, sua análise criteriosa?!
No mais se desejar pode continuar lendo o blog e comentando como quiser, afinal são só comentários,
GRAZI disse…
Adorei esse texto, algumas pessoas se sentem atingidas, pq será?
Ivo Fernandes disse…
Grazi, que bom que gostou, eu também gosto muito dele, e penso que aqueles que não gostam seja em virtude do Mistério tirar deles o poder de encaixar Deus em seus esquemas,

Abraços

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