Considerações sobre Jó e eu

Dizer que Deus está por trás da salvação, livramento, transformação, ou qualquer espécie de bem que alcance o indivíduo é fácil. Difícil é crer-saber que Ele também pode estar por trás das tragédias que assaltam nossas vidas.

Todos nós com facilidade louvamos a Deus pelas bênçãos que alcançam um indivíduo, mas nos calamos diante da tragédia, e quando abrimos a boca, quase sempre é para atacarmos o indivíduo em calamidade.
Vivemos em dias em que a mensagem do Evangelho foi esquecida na maioria dos púlpitos e em seu lugar está a mensagem da barganha, da recompensa, do lucro, das teologias morais de causa e efeito. Conteúdos que a fé em Jesus não suporta.

O cristianismo em sua forma atual é mais pagão do que algumas religiões de mistérios, pois leva o indivíduo a viver num purgatório existencial, onde tudo é resolvido pelas leis secas da causa e efeito.

Para os que não andam pela fé tudo se explica, para todo efeito há uma causa conhecida. Assim, se criam as maldições hereditárias, para quando não encontrarem na vida do indivíduo a causa, alegue que está em seus antepassados.

Na minha vida ouviu diversas vezes a sentença da punição de Deus pela boca dos filhos da religião quando a calamidade me assolou. Pois para eles, a prova de que estavam com a razão era a visível calamidade que me assolara. No entanto, a Graça é loucura para os que passam a vida a julgar pelo que vêem, daí muitos não suportarem a bênção que hoje, depois da calamidade, e ainda nela, me veio.

Diferente da teologia moral dos evangélicos religiosos a Graça é sempre favor imerecido. A semelhança de Jó, vi meus amigos se tornarem juízes da minha dor. Convivi e ainda convivo com a sentença de morte que eles me deram. Sei o que é ser para si mesmo o que não se é para ninguém. Chegou o tempo em minha vida em que aqueles que me difamam pensam estar fazendo um serviço a Deus, conforme nos ensinou Jesus. Assim muitos amigos já não estão porque não querem sofrer os mesmos danos que hoje sofro. Mas aquilo que para muitos foi minha morte, na verdade se tornou minha vida.

A minha consciência, hoje, está livre do medo do juízo dos homens. Sigo apenas a Voz que me advoga diante Daquele que É.

Ivo Fernandes em 2 de maio de 2006
No Caminho da Graça

Comentários

Clayton Nogueira disse…
caramba Ivo, ótimo texto.

Acredito que muitos já passaram/passam por isso.

Que a Graça seja a loucura que nos alcança a cada dia e que nos faça enchergar todo o mal/bem que acontecem debaixo do sol e que aprendamos com o Eclesiastes a aproveitar o dia bom e a ponderar no dia mal.

Abração meu véi, como diziam na fronteira: "Que Dios le bendiga".
Paulo Renato disse…
Mano Ivo entendo perfeitamente o que falas pois tenho visto a ausência de muitos daqueles que amo, e sentido na pele o peso de suas acusações. Mas todavia me sinto livre e em paz com minha consciência e sigo um dia de cada vez sendo somente o que sou. Minha alma se encoraja com a sua e encoraja você que sigas em fé e Graça. Um grande abraço.
Wilson disse…
Alô Ivo, nome de um avô querido que já se foi.
Meu caro, quando você diz que no mundo espiritual não existem causas e efeitos. Confesso que não entendo. Como posso aprender uma lição, depois de cometer um erro se não percebi a sua origem? Como posso descobrir os sentimentos que haviam em Jesus, se não sinto o peso da iniqüidade que cometi, que lhe custou a cruz? Como estar morto com Cristo, se insisto em permanecer vivo, crucificando Jesus a cada momento?
Entendo sim, que a cruz aniquilou todo o pecado na minha vida. Não são as ofensas dos outros, que me arrastam para a perdição. Não há maldição sobre os que estão em Cristo. Jesus é a maldição crucificada.
Quando sou julgado severa ou excessivamente, sem misericórdia. Sou julgado sim, pago o preço sim, mas não sofro o peso da origem da discriminação e da falta de amor.
Aqueles que assim o fizeram sofrerão as conseqüências. “... Pois com critério que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido vos medirão também. Mt. 7.2... Isso não é causa e efeito? Por favor, o que é então?
Não posso me esconder atrás da Graça, levando uma vida sem compromisso com a justiça, já que não vou sentir a conseqüência do pecado. Isso é mamão com açúcar. Pior do que o Evangelho da Prosperidade, pois esse se revela na exterioridade das minhas ações, são facilmente detectados. Mas a falta de justiça interior é gravíssima, pois cauteriza a consciência, e está alojada nos bastidores da alma. Ver Hb. 12.11
Por favor, não chame isso de religiosidade.
Somos do Senhor.
Ivo Fernandes disse…
Olá Wilson, seu comentário não parece de quem entendeu o que escrevi, mas mesmo assim posso falar de algumas coisas ditas no seu comentário.

Como posso aprender uma lição, depois de cometer um erro se não percebi a sua origem?

A questão da aprendizagem tem haver sim com o reforçamento do positivo e o enfraquecimento do negativo, usando uma linguagem skineriana, assim é preciso ter uma base de valores que determinam o que é positivo e negativo. Eu tenho as minhas, mas o que isso tem haver com Deus, afinal não é para ele a moral mas para os homens.

Como posso descobrir os sentimentos que haviam em Jesus, se não sinto o peso da iniqüidade que cometi, que lhe custou a cruz?

Esse é um pensamento limitado do significado da cruz de Cristo, como se ela só coubesse dentro da teoria da expiação. Creio na Cruz como o próprio ato da Vida morrendo para gerar existência, sem negar as várias linguagens que ela pode assumir na história, inclusive a expiatória.

Como estar morto com Cristo, se insisto em permanecer vivo, crucificando Jesus a cada momento?

De fato os que mortos estão com Cristo não podem mais permanecer vivos em si mesmos, aliás nunca estiveram, apenas iludidos eram.

Também creio que a Cruz é a solução para o pecado, e que não há maldição sobre os que estão em Cristo.

Quanto aos sentimentos frente aos sofrimentos, parabéns pela capacidade de não se envolver, não é o meu caso.

Quanto ao seu conceito justiça e de juízo relacionado à Causa e Efeito, discordo, por uma simples razão a Graça destrói toda idéia de retribuição e das relações de causa e efeito.

Quanto à religiosidade, que nome daríamos a tudo isso?

No mais, creio sim que eu e você somos Daquele que para Si nos criou,

Abraços
Wilson Costa disse…
Perdoe-me realmente não transmiti a você minha cumplicidade nas dores que está sofrendo. Entendo também que não posso considerar perseguição, quando sou afligido por injustiças, pelo que parece é o seu caso. A Palavra diz:"... sois bem-aventurado..." Porém isso não me impede de ser solidário com você, e de dizer que também já atravessei grandes desertos. A pouco tempo quase perdi minha, quando tinha 16 anos filha para um facínora. E Deus esteve comigo. Como está com você.
Entendo também que os valores que estarei fortalecendo ou não, minhas convicções, sejam positivos ou negativos, tem tudo a ver com o aspecto moral. Por favor, convenhamos, era sobre isso que você se referiu no seu texto.
Você se referia as questões morais sim, se não o fosse você não teria se sentido abandonado e afligido. Sentimento de abandono é deserto, e deserto é lugar de solidão. Deus deixou Jesus sózinho na Cruz, naquele momento Ele era um imoral. Deserto é você e Deus, isso não é moral, é espiritual.Jesus foi tomado entre os pecadores, e pecado é ordem moral. E isso não é religiosidade, são resultados das mazelas que o pecado provoca, você sabe bem disso.
Não te julgo,por estabelecer definitivamente sua independência, mas te questiono por achar que seus sofrimentos não tenha origem em você.
Quando minha consciência questiona os valores que me são impostos. Ora, ainda que não os aprovem estou sendo questionado. Minha posição diante deste confronto é que vai determinar se sou auto-suficiente, se tenho um conceito sobre mim além do que realmente sou. Ou se devo rever meus conceitos de valores.
Creio que o uso da instituição chamada a internet, onde muitos estão congregando virtualmente, é bem diferente da convivência olho no olho que a igreja proporciona. Ali sou conhecido pelas minhas ações, me exponho ao juízo de valor.
Aqui, busco e rebusco convicções nas reflexões das experiências postadas, bem diferente dos confrontos existentes nos relacionamentos pessoais, in loco.
É ali como você mesmo disse: “... estão as várias linguagens existentes..."
Você dizer que a expiação é uma teoria, denota que a morte na prática não existiu. E isso é determinante para nascer de novo.
Só vivo, se morro. Está é a mensagem principal da cruz.
Caro Ivo, Jó, tinha tanta convivência com Deus, que foi o homem que mais reclamou com Ele. Havia algo além da dor que estava em processo na vida dele.
Quem o considerava homem justo, fiel, reto e temente a Deus, era o próprio Deus, nenhum outro havia como Jó.
PORÉM QUEM O CONSIDERAVA ASSIM ERA DEUS.
Nos seus questionamentos, Ele não tinha dúvidas, era Deus que o estava afligindo, é isso era verdade, o instrumento usado no terror, tinha autoridade de Deus para atuar, o autor intelectual era Deus.
Quando você compara sua dor a de Jó, claro, guardando suas devidas proporções, foi permitida por Ele, você lhe pertence, há algo além da dor que você não pode enxergar na turbulência, na falta de nitidez e onisciência.
Jó, percebeu que ele não era quem imaginava ser. Quando Deus resolve falar com ele, e lhe faz cerca de 88 perguntas ele não sabia responder nenhuma delas.
É verdade, quando ele percebeu que faltava compaixão dos seus amigos. Jó.6.14
Nisso há semelhança com sua dor meu caro. Mas foi essa, e outras profundas dores que que levou Jó a considerar que conhecia Deus só de ouvir falar.
Meu caro, Jó recebeu tudo de volta que possuia quando ainda era considerado por Deus, como um que não havia na Terra, só perdeu a sua arrogância e soberba, que era a causa do processo que estava em curso, um tratamento que estava além da dor.
Quanto a Graça destruir todas as provas contra nós, não tenho dúvidas, mas a soberba aniquila a Graça, Davi percebeu isso no salmo 19.12,13.
E volto a dizer, isso não é religiosidade. Sou livre para questionar e ser questionado. Admira-me profundamente que os que abminam rótulos, o praticam criando um "...não sou religioso...", como já dizia o velho Salomão:"...tudo é vaidade de vaidades..."
Somos do Senhor
Ivo Fernandes disse…
Mano Wilson,
Ainda considero que compreendeu pouco o que escrevi, mas esse é o risco de todo texto.
Nossos conceitos são diferentes sobre algumas coisas, como a bíblia, a moral e as linguagens teológicas.
Que a Graça soberana esteja sobre nós,
Wilson disse…
Caro Ivo, lamento que eu não tenha o nível de entendimento, que o amado irmão supõe.
Posto isso, espero que eu não seja um daqueles que levou a João a exortar a igreja de Éfeso, que não tinham dificuldade de crer em Jesus como Deus encarnado, cheio de poder e grande sabedoria. Mas que não acreditavam em Jesus homem, vergonha da raça, imoral e como homem crucificado. Enfim não houve expiação, porque Jesus já era Deus.
Paulo foi confrontado, por ter dura servis, zeloso guardião da religião. Só os religiosos têm dificuldades de recalcitarem-se, mas enfim conheceu Cristo, após passar pelas duras provas, que o reduziram a escravidão.
O gnosticismo está entranhado nas mensagens contemporânea.
O saber passou a ser o grande instrumento da persuasão. O poder de Deus que se revela nos bastidores da alma, passou a ser revelado nos bastidores da mente.
Realmente, nossos conceitos são diferentes em todas as coisas.
Recebemos de fontes diferentes, senão o Espírito testificaria em nossos corações.
Jesus é a nossa paz.
Ivo Fernandes disse…
Mano, não sei qual é o nível de seu entendimento, mas em relação ao que escrevi considero que a partir do que escreveu que não entendeu.

Sobre o que por último escreveu, diria que o gnosticismo está entranhado em toda a mensagem do cristianismo no decorrer dos séculos e não só na contemporaneidade. E que infelizmente desde cedo e não agora deixamos o Espírito pela doutrina, ou nas suas palavras “O poder de Deus que se revela nos bastidores da alma, passou a ser revelado nos bastidores da mente.”

Realmente, nossos conceitos são diferentes só não sei se em todas as coisas, e talvez tenha a ver com a fonte e com a história de cada um.

Em Cristo que de ambos os povos fez um

Abraços
Wilson disse…
Voce me perdoe mais uma vez, mas a percepção que tenho é que em parte somos moldados para nos alimentar de elogios, que nem sempre são verdadeiros e construtivos.
E em parte, somos confrontados em nossas convicções, nesses casos, somos tendenciosos em desqualificar o contraponto como algo incompreensível, ou fora de ordem.
Mas o aprofundamento das questões, nos permitem averiguar que nossos conceitos não estão isolados no entendimento.
O bom de tudo isso, é que você disse:"...em Cristo que ambos os povos fez um..."
E nisso incluem-se os religiosos.
Caro Ivo, minha reflexão, confesso que têm muito a haver com minha história, e assimilações no mundo espiritual, que somente agora estão se tornando mais claras.
Os sentimentos pulsantes, as buscas incontroláveis à Deus, aos carmas, as dimensões diversas neste mundo de emoções.
Tinha o coração tomado por palavras, e não por sentimentos vivos e reais. Não sentia que essas "viagens", escondiam da minha alma a verdade que é Jesus.
Foi então que contemplei a nudez em que eu vivia, era Jesus que eu procurava, e encontrei-O.
Ele me levou até você, ou como desejar, aproximou voce de mim. Parece ser a mesma coisa, mas não é, vai depender do nível em que eu me considerar que estou. Estou olhando para baixo, ou estou olhando para cima?
É isso aí meu caro. Verdadeiramente somos do Senhor.
Ivo Fernandes disse…
Mano, de fato somos como você descreveu, e que nada que pensamos está separado da nossa própria história, como também disse.
Que bom que encontrou Aquele que dá sentido a todas as coisas,
Abraços

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