Sobre a descida de Cristo ao Hades




Primeiramente confesso que os textos analisados, a fim de obter uma resposta para essa questão, não são de fácil compreensão. No entanto me valho da fé, do bom senso, do testemunho de muitos cristãos e daquilo que acredito ser a totalidade do Evangelho. Creio firmemente que Jesus é o Caminho ‘aqui ou em qualquer lugar’ como disse Russel Champlin, e que, portanto, não vejo nenhuma dificuldade em dizer que Cristo foi e pregou aos espíritos em prisão, conforme 1 Pe 3.19. Minha consciência, segundo o Evangelho, não me deixa participar da idéia de Cristo ter ido às regiões inferiores apenas para declarar a condenação dos que lá já estavam, ou que foi apenas para tirar os justos daquele lugar, quando o texto claramente diz que foi pregar aos espíritos em prisão que em outro tempo foram rebeldes. Também não vejo força no argumento de Agostinho quanto a essa questão, ao afirmar que Cristo pregou por meio de Noé aos homens de seus dias. Isso, para mim, é forçar demais o texto, querendo que ele diga algo que não está dizendo. Vejo que a maior preocupação daqueles que negam tal possibilidade é garantir a manutenção de sua teologia sobre a salvação e a perdição eterna, ligado a isso a idéia de que somente por meio do anúncio que a Igreja faz é que os homens podem ser salvos. Mas segundo Paulo o próprio Deus reunirá em Cristo todas as coisas (Ef 1.10/Cl 1.16). O que parece ser a mensagem é que Cristo pode alcançar os homens em qualquer lugar. Sei que muitos são presos à idéia de que depois da morte segue-se o juízo conforme Hebreus 9.27, no entanto o texto em Hebreus não deixa claro que o ‘depois disso’ é a morte do indivíduo, principalmente se lermos outros textos sobre o tempo das fronteiras eternas como Atos 17.30,31; II Tm 1.12; 4.8; I Jo 4.17. Concordo com Lange quando diz que “Pedro, por iluminação divina, afirma claramente que os meios de salvação divina não terminam com esta vida terrena”.Creio que aquele dia onde os homens serão julgados definitivamente é o dia do aparecimento de Cristo, portanto até aquele dia não podemos e nem temos o direito de definir o alcance da salvação (Rm 10.6-8). Se as Escrituras não dizem o que está dizendo como parece afirmar alguns teólogos, logo, Ela pode ser manuseada para provar qualquer coisa. Alguns gritarão e dirão – e a justiça divina? – como se fossem maiores do que ela em suas considerações. Nunca neguei a realidade da ira e da punição, no entanto, creio que ninguém poderá perder-se finalmente sem antes ter chegado frente a frente com a verdade conforme ela se acha em Cristo. Outros talvez dirão que isso é novo e antibíblico, no entanto ignorantemente falarão já que muitos pais assim criam, como também uma quantidade enorme de cristãos no mundo, excetuado talvez um número crescente de denominações evangélicas. Não sou universalista ou coisa assim apenas não ouso diminuir a missão de Cristo abaixo do que ela é vista nas Escrituras. Creio que o mistério da vontade de Deus é conforme diz Ef 1.10 e que um dia Cristo será tudo em todos, não reduzindo esse mistério à visão simplista dos universalistas. Cristo é a razão da existência de tudo, o alvo de viver de todos. Não existe nenhuma vida independente dele e nem nunca existirá. O que vejo é uma guerra de teologias e denominações e nesta guerra aqueles que ficam de fora e se põem a seguir a verdade são taxados de hereges. Mas já não tenho energia para gastar com a religião. Regozijo-me com as cenas finais apresentadas em Apocalipse. Onde várias vozes cantarão um cântico ao Cordeiro. Faço minha as palavras de um ditado popular: “Da covardia que teme novas verdades, da preguiça que aceita meias-verdades, da arrogância que pensa saber toda a verdade, ó Senhor, livra-nos!”.

Ivo Fernandes (em 23 de janeiro de 2006)

Comentários

Unknown disse…
Muito legal esse texto, Ivo. Merece uma meditação prolongada.

Uma dúvida, Ivo, vc acha que quando Jesus fala sobre "porta estreita" e "poucos escolhidos" Ele estava se referindo à salvação ou a outro evento antes do julgamento final?

Um abraço.

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