Recomeçar


Faz alguns dias que completei 32 anos. É! Ainda tem pessoas que se assustam quando revelo. A grande maioria me considera mais velho, talvez em razão do lugar e da representação que ocupo. O fato é que em cada aniversário fico mais reflexivo do que o de costume, introspecto e na maioria das vezes mais triste. É tempo de renovação.

Esse ano duas coisas aconteceram que o marcaram, um foi minha enfermidade que chamo de morte por várias razões minhas. Meus primeiros sintomas se deram logo após meu aniversário do ano passado. Seguiram-se dias de angústia e então morri. Logo fez um ano depois da minha morte. E quantos aprendizados não tive nesse tempo, quantas sensações, coisas que só a morte nos traz. E a outra coisa foi a mudança de casa, e consequentemente da estação do Caminho.

Novo ano. Nova casa. Novo endereço. Novo momento. É uma casa nova, somos os primeiros moradores. Ela fica num local silencioso, na reserva ecológica Sapiranga. Agora mesmo enquanto escrevo escuto sons de pássaros. Na frente dela tem um pé de cajueiro, um novo local consagrado para minhas orações.

Enfim, muitas novidades, mas o meu aprendizado de hoje depois de um dia inteiro tentando dar conta da bagunça para receber mais tarde meus amigos e irmãos para a reunião da Estação do Caminho, é sobre os desafios de recomeçar.

Todo recomeço tem alegrias e desafios que por vezes se mostram cansativos e batalham contra nosso ânimo, porém as bênçãos do novo são maiores que a luta em vivenciá-lo. Primeiro para recomeçarmos é preciso decisão. Ninguém recomeça se não desejar isso. É preciso força de vontade, fé. A maioria das pessoas não recomeça, pois sabe o trabalho que dá, preferem deixar as coisas como estão a enfrentar os desafios impostos pelo recomeço, não experimentam novas possibilidades, e o futuro é uma mesmice eterna.

Segundo é preciso maturidade, pois quando os desafios surgirem é ela que nos garante não retrocedermos. E os desafios são muitos. Recomeço traz consigo mexer em coisas antigas, guardadas e muitas vezes esquecidas, e ao deparar-se com elas ter que tomar decisões sobre o que fazer. Conservar? Dar o fim necessário? Reutilizar de outro modo? Quantas coisas não precisamos simplesmente jogar fora. Quantas caixas e mais caixas de lixo que ocupavam nossa antiga casa, nova antiga vida! O que não se pode jogar fora? Como reutilizar? De que forma encaixar num novo canto, combinar com uma nova cor? Quando fazemos isso percebemos que o mesmo agora no novo se reveste de outros significados sem perder a história que o objeto traz.

Isso tudo leva tempo. Gasta nossas energias físicas e mentais. Por isso a terceira coisa necessária é paciência. O impaciente poderá cometer muitos erros. Só o paciente produzirá o melhor. Não se precipitará em resolver todas as coisas ao mesmo tempo. Irá por parte conforme condições adequadas, mas no final terá o que deseja realizado. Enquanto aguarda precisará conviver com o transtorno do processo. Coisas sem lugar, projetos inacabados. Mas se for diferente apenas aumentará problemas para ter que resolver depois.

A quarta coisa necessária é companhia. Nenhum recomeço é bom sozinho. É preciso companhia para partilhar da limpeza e das decisões a serem tomadas. É certo que muitas coisas dependem exclusivamente do individuo, mas uma boa parte requer o olhar do outro, a fala do outro, afinal todo recomeço implica em novas possibilidades de relações. Cercar-se de amigos, junto com a quinta coisa, música.

A música é peça fundamental em todo recomeço. Nova trilha sonora. Com música tudo que se faz ganha sentido e profundidade.

Por fim a partilha. Recomeçar para não compartilhar é como nadar sem ter mar. Nossa construção só faz sentido na medida em que nossa nova casa abriga velhos e novos amigos.

Bom! Eu estou recomeçando e desejo brindar com todos que chegarem por aqui à benção do Novo Dia chamado Hoje!

Ivo Fernandes

9 de junho de 2013

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