Convocação do Tempo


Certo dia entrei numa casa velha. Longos corredores, várias portas, uma escada que me levava para onde as recordações estavam. Poeira e teias de aranha disputavam lugares com armários, portas retratos e um relógio de parede. Tirei o excesso de pó e vi que o relógio ainda funcionava. Fiquei ali, olhando o movimento de suas peças, e me senti tomado pela sensação de perceber o tempo. Ao som de cada segundo, era como se pudesse sentir o pulsar do seu coração. E como se cada minuto contasse histórias, ouvia a sua sentença sobre todas as coisas.

Naquele momento, eu que durmo com a morte não mais a estranhei. Percebi que não é correndo contra o tempo que se vive mais, antes é no passo calmo que escuta o som do relógio. Vive-se mais quando se vive para ficar na história, nos sobrados, nos portas-retratos, na poeira e na memória.

O tempo não para, mas caminha lentamente com passos marcados, como que cantando cada segundo.

Todos que correm para ganhar tempo perderam a caminhada e toda história nela contida. Será que na correria já nos questionamos pra onde estamos indo com tanta pressa?

O tempo nos convoca a sabedoria: é preciso contemplar o segundo que nunca mais se repetirá.


Ivo Fernandes

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