O pensar da febre


Estou com febre e meu corpo todo dói. Enquanto isso penso. Ontem lia as primeiras páginas de “A paixão segundo G.H” e já fiquei tomado pela questão da identidade, da pessoa, do que significa o humano. Rabisquei bastante e desejo mergulhar mais fundo nas questões sugeridas. Daí perguntei no grupo – sociedade – do facebook: O que é pessoa?
 
Meu amigo Al Duarte respondeu: uma máscara boiando no mar... Estávamos agora diante de outros termos que desencadeariam uma serie de perguntas: O que esconde a máscara? Ainda há rosto diante da infinidade de máscaras? 
 
Para mim estávamos diante da virtualidade que nos cerca e nos atravessa. Metafísica? Sim, é preciso resgatar a metafísica das formas, e falar de uma metafísica da força.
 
Pessoa não pode ser pensado como algo dado, acabado. Não pode ser pensado como fixo Eu. Nem como corpo-objeto apesar de dele jamais se libertar. Pessoa é potência, multiplicidade de eus. Não é necessariamente o que me organiza, mas justamente o contrário.
 
Da questão pessoa surgiu a questão do humano. E de maneira semelhante não penso humano como uma forma fixa. Como se o humano carregasse algo de melhor a qualquer outra coisa. Bom, dessa conversa surgiu à dica de um filme: Instinct (Instinto) drama produzido nos Estados Unidos em 1999, co-escrito por Gerald Di Pego dirigido por Jon Turteltaub.  Nele pode-se discutir essa questão do humano.
 
Adorei o filme, considero que em certos momentos me pareceu haver certa exaltação do “natural” e acho isso tão perigoso quanto os jogos das formas fixas. Porém certos elementos nos fazem questionar muitas coisas. A relação do antropólogo com o mundo, com sua filha, o que procura ensinar e o que aprendeu. O que para mim fica é que por mais que Ethan Powell tivesse sido aceito no grupo dos gorilas e isso tivesse mudado sua visão de mundo, o homem tem distinção. Fugir da filha poderia ser a negação dessa distinção que não queria confessar.
 
O que nos distingue não deve ser evitado. O que dizer desse momento em que escrevo? Dessas reflexões que faço? Da fé? Do amor? Do pensamento? Agora o que nos diferencia não nos coloca numa posição de controle. É certo que tais elementos são os maiores produtores da ilusão. E nossa ilusão maior é pensar que nossa diferença nos faz soberanos.
 
Uma das horas marcantes do filme trata justamente disso, quando no diálogo do antropólogo com o psiquiatra, onde este pergunta: O ser humano é mal, a civilização humana é má. Então o que sugere? Destruir as cidades, abrir mão de tudo e viver como animais? O antropólogo responde: Não... basta abrir mão da soberania
 
Eis aí nosso problema, a forma fixa da qual não queremos abrir mão. Pessoa, Humano, categoria do Homem é sua distinção, sua diferença que deve ser celebrada, mas jamais exaltada, criando hierarquias. E o que pode promover essa mudança crucial senão a potência, a força da liberdade, produto do que nos distingue, mas que não é uma ilusão.
 
Desculpe qualquer coisa, eu tô com febre...
 
Ivo Fernandes
13 de julho de 2013


Comentários

Acabei de pegar o filme na locadora.
Acabei de pegar o filme na locadora. Vou assisti-lo já.
Depois da apresentação do grupo sobre a categoria pessoa, ontem, na aula de Antropologia Filosófica, entendo que somos todos "pessoas singulares" e é nessa diferença que mostramos a nossa essência. A "borrifada do perfume".

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