Da liberdade humana


Só é livre aquele que tem poder sobre seus afetos, e esse poder é mérito dos sábios, ou daqueles que se utilizam da razão e chegaram a fé e por meio deles regulam e ou refreiam seus afetos, mesmo que limitadamente, visto sabermos que domínio absoluto sobre os afetos é uma impossibilidade humana, baseado na experiência.

Sabemos que por meio da ordenação dos pensamentos, ordenamos as afecções do corpo. Assim é preciso separar emoções do ânimo de causas imaginárias, destruindo assim afetos tristes. As paixões tristes só podem ser vencidas através das ideias claras e distintas das mesmas e de suas causas. O corpo sofrerá menos a medida que mente reconhecer mais, mesmo que esse mais não seja a plenitude desse saber.

Devemos, pois no dedicar, sobretudo, à tarefa de conhecer tanto quanto possível, clara e distintamente, cada afeto, para que a mente, seja assim determinada em virtude do afeto pelas causas verdadeiras.

Atitudes assim destroem ódios e similares. Tudo que desejamos oriundo de ideias claras é uma virtude, e aquilo que desejamos oriundo de ideias inadequadas é uma paixão triste.

Assim o caminho é descobrir quais nossas reais necessidades. O que nos é necessário? E assim produzir afetos potentes provenientes da razão. Todo afeto que nos impede de pensar é um mau afeto.

E como se trata de um caminho é preciso respeitar o processo. Não alcançamos de um dia pra noite o conhecimento adequado de nossos afetos. Assim é preciso escolher um princípio correto de viver, verificar a memória, como fonte primária de saber, e aplica-las aos casos particulares e ir percebendo o que funciona ou não, o que tem ligação lógica ou não.

Os que amam a liberdade buscarão regular seus afetos, conhecendo suas causas, e assim não terá tempo e nem condições de jugar os outros e nem se alegrará com a escravidão alheia. E na medida que compreendemos a nós mesmos e nossos afetos, assim amamos ao próximo e consequentemente a Deus. E assim a mente fica ocupada apenas de Deus. E nisto se constitui a liberdade em amar a Deus que nada mais é que amar a si e ao próximo, possibilidade dada as condições de termos ideias adequadas de nossos afetos.

Ivo Fernandes

25 de abril de 2015

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