A presença da Ausência


Leituras: Salmo 42; 1 Jo 4

“Deus só pode estar presente na criação sob a forma de ausência. ” Simone Weil

O que é mais assombroso na fé cristã é que seu Deus é abscôndito. Apesar de nossa poesia trazê-lo para tão perto, onde realmente ele está? Talvez essa seja a pergunta mais doída, honesta e angustiante que fazem os homens de fé. Talvez por isso o Homem por excelência não ficou isento de fazê-la.

Aprendemos a responder a essa pergunta desde crianças em canções como “Deus está no céu”, no nosso modelo de oração “...estás nos céus”. Nesse lugar distante aprendemos a esperar Ele e Dele alguma coisa como um servo espera do seu Senhor.

Depois aprendemos a responder que ele está aqui, tornou-se o Deus presente por meio da encarnação. O que estava em cima agora está em baixo. O que estava no céu agora está na terra.

Com a sofisticação de nossa teologia dissemos que Ele não está aqui nem ali, e explicamos isso por meio de uma delicada relação entre os conceitos de transcendência e imanência. Assim, Deus passou a ser conceito.

No entanto a verdade dita por João é maior que nossas respostas – Ninguém jamais viu a Deus. Paulo disse – Ele habita em luz inacessível. E eu digo – Ele é o Ausente!

A questão é por que? Eu só encontro uma resposta – Porque Ele nos ama! E talvez me perguntem, mas como a ausência pode ser sinal de amor? Se Deus fosse presente nós não seríamos! A nossa liberdade, existência, fé, razão e tudo que nos torna humanos é garantido pela ausência de Deus. E esse é o projeto de Deus - que sejamos! E a melhor das semelhanças é nossa própria relação com nossos filhos. Nenhum pai que deseje que seus filhos se tornem adultos sadios ficará presente o tempo todo, pois sabe que isso impediria o desenvolvimento do filho. Por amor é necessário é ausência.

O que é um homem de fé? Os que veem sarça ardendo, colunas de fogo, mares se abrindo, rochas que servem água, exércitos vencidos, agua virar vinho, pescas milagrosas, ressurreição de mortos? Não. Um homem de fé, não anda por vista, já nos ensinou Paulo. Quem crer não precisa ver. O Ausente é plenamente presente no coração dos verdadeiros crentes. Pois o Ausente não é o indiferente, nem o distante, nem o frio, é o que ama.

Eu nunca vi a Deus mas sei que Ele vive em mim e sua Ausência está em todos os lugares garantindo minha liberdade.

O Ausente que ama está revelado no Amor. “Ninguém jamais viu a Deus” – disse o apóstolo João. Contudo, concluiu dizendo que, “se amamos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor está aperfeiçoado em nós” (1Jo 4.12).

Assim concluo: O Deus transcendente, imanente, transparente, é também o Deus ausente, e assim é tudo em todos, por todos e por meio de todos.

Leiam!


Ivo Fernandes
15 de janeiro de 16


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