A igreja de Corinto e a deturpação da Graça


Corinto era uma cidade grega e uma das maiores e mais importantes cidades do Ela ficava bem próxima de Atenas, a grande capital da Grécia, e a capital intelectual do mundo. Corinto era uma cidade banhada por dois mares, o mar Egeu e o mar Jônico. Em Corinto ficava um dos mais importantes portos da época, o ponto de Cencréia. Portanto, a cidade de Corinto era cosmopolita. O “mundo inteiro” transitava nela. Para Paulo evangelizar Corinto era um plano estratégico, pois o evangelho a partir de Corinto poderia se espalhar e alcançar o mundo inteiro. Essa talvez, foi uma das razões por que Paulo se concentrou nessa cidade.

A cidade fora destruída e totalmente arrasada pelos romanos no ano de 146 a.C. e somente por volta do ano 46 a.C. é que César Augusto a reconstruiu. Quando Paulo chegou a Corinto, ela já era uma cidade nova. Paulo entendeu que o florescimento da cidade favorecia a semeadura do evangelho e pavimentava o caminho para a plantação de uma nova igreja.

Corinto era, também, uma cidade importantíssima na área dos esportes. A prática dos jogos ístmicos de Corinto só era superada pelos jogos olímpicos de Atenas. Corinto era uma cidade que atraía gente do mundo inteiro para a prática esportiva.
Também era uma cidade altamente intelectual. O principal hobby da cidade era ir para as praças e ouvir os grandes filósofos e pensadores exporem suas ideias. Era uma cidade que transpirava cultura e conhecimento.

Por tais características a moral não era conservadora e a fama da cidade se associou a diversos prazeres carnais. Prostituição turística marcava a cidade. Quanto a religião era uma cidade politeísta adorando especialmente Afrodite e Apolo. Estima-se que tinha cerca de 800 mil habitantes no tempo de Paulo. Foi a capital da Grécia romana, habitada principalmente por homens livres e judeus.

As atividades de comércio marítimo no porto podem ter contribuído para o trabalho do apóstolo Paulo como fabricante de tendas em Corinto. (Atos 18:1-3).  

Ao ler as cartas que Paulo escreveu a igreja que estava em Corinto não sem pode deixar de perceber a influência da cultura da cidade sobre os cristãos daquele lugar.

A igreja em Corinto surgiu como resultado do trabalho realizado por Paulo e outros na sua primeira viagem, poucos anos antes. Atos 18 fala sobre este trabalho e o apoio de Silas, Timóteo e um casal que se tornaria importante na divulgação do evangelho, Áquila e Priscila. Paulo dedicou um ano e meio ao trabalho em Corinto e naturalmente desejava o bem destes irmãos.

A igreja de Corinto apresentava uma diversidade de dons. Falavam em línguas e profetizavam, mas também era cheia de dissensões e bastante discriminação socioeconômica. A multidão de ideias produziu uma variedade de teologias. Dessa variedade surgiu novos tipos de “apóstolos”, os obreiros que subvertem Evangelho da Graça de Deus. “Adulteradores da Palavra”. Um desses tipos eram defensores de um “fundamentalismo letrista”, que enfatizavam a Lei sem fazer nenhuma análise espiritual da mesma. Eram os convertidos aos códigos, mas não à Graça. Tais convertidos eram cheios de egoísmo, cegados pela presunção gerada pelo sentimento de superioridade oriundo da observância externa da Lei, bem como, pelo preconceito que dela se origina, criando uma barreira invisível para a percepção da Palavra no coração.

A observância da Lei, a partir do texto e não do Espírito esconde o ser, camufla a culpa, veste-se de exterioridades compartimentais, se jactância de seu conhecimento. Pela Lei, o ser não revela jamais seu interior.

Somente pela ótica do Espírito que “todos nós com o rosto desvendado, contemplando como por espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”.

Isso nos leva a concluir que a aceitação do Jesus bíblico nada tem a ver com o acolhimento dos conteúdos de Sua Palavra! É possível nos convertemos à “igreja”, sem jamais ter conhecido a Cristo!

Portanto o primeiro tipo de deturpação da Graça é a fundamentalista textual que pelo Livro se mata o Espírito.

O outro tipo de deturpação é a assimilação cultural do Evangelho, ou seja, fazer o Evangelho se adaptar aos modos do tempo sem levar em consideração o Espirito, mas apenas o princípio de reprodução social. 

Seria o mesmo que justificar a negociação entre política e a religião por compras de votos; a idolatria da imagem associada a propaganda; a busca desenfreada por objetos mágicos e por benefícios matérias. É o culto capitalista onde se compra o que se deseja. Deus se torna um produto de barganha, mágica e fetichismo, e que leva as pessoas não a Jesus, mas sim à “sessão”. É um deus confinado em templos, imante nos objetos mágicos e que se deixa comprar pelo dinheiro.

Essa é o segundo tipo de deturpação da Graça.  

Enquanto não se olha para Graça não se vive a dinâmica da conversão que muda não apenas as exterioridades do comportamento, mas as essências do ser e isto de modo constante e permanente. Se não houver libertação então não é a Verdade e sim uma “falsificação do evangelho”.

A primeira deturpação cria uma religião penitenciosa e penitenciária, mediada pela culpa e 
pelo medo. A segunda gera uma religião permissiva e liquida mediada pelos prazeres imediatos.

A mensagem da Graça não é uma ideologia moral castradora nem um aval para todo e qualquer ato.

A mensagem da Graça produz uma consciência que gera atos de justiça, paz e equidade, mediadas pelo amor e geradora de fé.


Ivo Fernandes

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