O Evangelho e o empoderamento feminino

(palestra apresentada no "encontro entre elas 2017" da igreja betesda do conjunto ceará)

O termo Empoderamento feminino está em voga, e significado tem assumido aspectos filosóficos, sociológicos, políticos. A questão central do empoderamento consiste na tomada de consciência do indivíduo a respeito de sua autonomia e competência para gerir o seu destino. Falando de empoderamento feminino também aponta para o poder de participação social às mulheres, garantindo que possam estar cientes sobre a luta pelos seus direitos, como a total igualdade entre os gêneros, por exemplo.

Na história da Igreja houve mulheres que tiveram um papel decisivo e desempenharam tarefas de valor considerável. No Cristianismo primitivo as mulheres tiveram uma participação relativamente ativa: “contavam-se mulheres entre os primeiros seguidores de Jesus”. Algumas, notadamente em Corinto, exerceram um papel de liderança. Ao que tudo indica, sua autoridade adveio da posse de dons carismáticos como a profecia e a glossolalia.

A igreja tanto nomeou diaconisas como diáconos para atuarem no desenvolvimento de cerimônias cristãs religiosas. Muitas mulheres nas escrituras me chamam a atenção, Maria mãe de Jesus, Maria Madalena, porém uma delas me ensina bastante e é dela que tenho mais falado durante todos os anos de meu ministério, trata-se da mulher samaritana.

Penso ser a história da samaritana uma história adequada para pensarmos o tema do empoderamento feminino a partir do Evangelho. Jesus em uma de suas viagens evangelísticas precisa voltar para a Galileia e no meio do caminho decide passar pela região da Samaria. Sua decisão, no contexto histórico, poderia ser considerada como insana, já que os judeus e os samaritanos possuíam péssimas relações entre si, e tendo ele outras opções de caminho para voltar ao seu destino. O povo samaritano era muito hostilizado pelos judeus, sofriam um grave racismo por aqueles que eram proclamados como “filhos de Deus”.  A sociedade judaica era essencialmente machista e patriarcal. O preconceito era tão grande que os judeus homens (principalmente os fariseus) todos os dias ao acordar tinham o costume de agradecer a Deus por não serem mulheres e por não serem samaritanos.

Era meio dia, horário de almoço, um horário impróprio para se buscar água numa região desértica por fazer muito calor, as mulheres não tinham o costume de buscar água nesse horário. Provavelmente esta mulher estava lá por um motivo mais sério, é possível que essa mulher possuía algum problema com sua comunidade vivendo excluída de sua sociedade. Jesus chega ao poço e a vê e diz “Por favor, me dê um pouco de água. ” (João 4:7).

No momento em que ele pede água ele quebra o primeiro preconceito: “A proibição de falar com uma mulher, ou seja, o machismo judaico”. O segundo grande dilema que Cristo quebra neste momento é o dele pedir água do mesmo copo que o dela, o que o tornaria amaldiçoado ou imundo (na cultura judaica da época), impossibilitando-o de prestar cultos a Deus por 40 dias. E principalmente Jesus teve com essa mulher uma das conversas mais profundas sobre espiritualidade, fazendo dela uma missionária aos samaritanos.

Dessa forma Jesus empodera aquela mulher. Ela que pelo contexto textual parecia ser uma mulher repudiada que agora estava com um homem que, portanto, não era seu marido, encontra em Jesus, outra forma de se enxergar. Jesus deve ter enxergado uma mulher de personalidade forte para aquela época, com opinião formada, que questiona teologicamente um homem judeu, e o que era visto pelos outros como ofensa gravíssima é aceito por Jesus e valorado.

Vejo na mulher Samaritana um modelo adequado para se falar de empoderamento feminino. Mulheres sem direitos, sem voz, mas que ousam a argumentar, ousam questionar o sistema que as oprimi tem na samaritana seu símbolo libertário.

Em Jesus e em seu Evangelho não há lugar para nenhum preconceito, inclusive os machismos e sexíssimos. A samaritana foi uma das primeiras a quem ele se revelou de fato. Maria Madalena, é outro exemplo, a primeira pessoa a quem Jesus apareceu depois de ressurreto segundo a Bíblia.
Cristo agiu corajosamente contra o preconceito e o machismo na conversa com a mulher samaritana e na parábola do Bom Samaritano. E todos os seus discípulos são convocados a se posicionar profeticamente contra o machismo, contra a desigualdade, contra a violência e contra o preconceito. Temos que agir profeticamente na sociedade contra o sistema que objetifica sexualmente as mulheres como meras propriedades ou consumo sexual. Que não reconhece suas competências e não valorizam suas ações e trabalhos. Que não admite o direito do corpo, e do seu próprio prazer.

Em Cristo não há homem e nem mulher, mas enquanto isso não for uma realidade entre nós, precisamos reforçar aquela que no decorrer dos anos foi oprimida e ignorada.

Ivo Fernandes
22 de setembro de 2017


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