A relação com Deus segundo Jesus



Os Evangelhos não apresentam nenhum manual de adoração, nenhuma orientação ou modelo para sistematizarmos o processo. Jesus, apesar de ser chamado de Mestre, não comunica nenhum sistema teórico, não propõe nenhuma filosofia da religião ou da história. Ele está longe de ser enquadrado no perfil dos pensadores. Nem sequer anuncia amanhãs radiantes. Sua mensagem é o que podemos chamar de imprevisível e consequentemente distanciada das interpretações dominantes da religião de sua época.

Quanto à questão da relação com Deus, os judeus pensavam esta relação a partir dos conteúdos concretos da esperança messiânica, da importância atribuída a Lei, do privilégio reconhecido à eleição e da fascinação pela terra prometida. Em outras palavras, a relação com Deus acontecia mediada pela Lei, pelo templo e pelas convicções dos espaços identificáveis do Reino de Deus, a saber, o templo, a terra e o povo eleito.

Porém, não vemos nenhuma dessas ênfases em Jesus. Ele se declara Messias negando todas as ênfases judaicas (Jo 4, 21-27). O Deus de Jesus não está em lugar nenhum. O Templo e Cidade de Jerusalém perderam a vocação de mediarem à relação com Deus. Quanto a Lei, é evidente nos textos como Jesus a relativizou em favor da vida humana. Aos seus discípulos não exige fidelidade a Lei, mas a si próprio como visibilidade humana de Deus.

Enfraquecidos o Templo, a Cidade e a Lei como mediadores da relação com Deus, a convicção de povo eleito perde o sentido. A universalidade da Graça e a fraternidade humana são afirmadas. Agora não é possível basear-se numa etnia eleita, pois até das pedras Deus suscita filhos (Mt 3,9)

Tanto na oração do Pai Nosso (Mt 6.5-15) quanto na conversa com a  samaritana (Jo 4), os dois textos mais indicativos sobre o assunto , Jesus não responde a questão de como nos relacionamos com Deus, apenas indica que tal relação é resultado de uma profunda convicção de Deus, que ele chama de fé, e que ocorre nos ambientes secretos da alma, e não nas exterioridades e aparências. Assim nada e nem ninguém pode ocupar o lugar de identificação de Deus, restando à máxima que o “justo viverá da fé”.

Ivo Fernandes
16 de outubro de 2011

Comentários

Anônimo disse…
concordo, o caminho do evangelho está dentro de nós e não fora.

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