O amor escandaloso de Deus
Leitura: Romanos 5
Ontem o sono insistia em
não chegar. Estava tomado pela sensação do amor de Deus, e ela me consumia.
Sentia uma vontade de gritar para toda a vizinhança – Deus nos ama de maneira
escandalosa, perturbadora, chocante e contra qualquer lógica humana.
Sim! Queria dizer aos
homens, mulheres, crianças, jovens, velhos, heterossexuais, homossexuais,
transexuais, travestis, castos, profanos, normais, bizarros, pobres, ricos,
casadas, prostitutas, vítimas e algozes. Deus ama a todos, porque todos são
seus filhos, criados a sua imagem para louvor de sua glória.
Sim! Todos nós fomos
criados para Ele e para seu louvor e não para qualquer danação ou inferno. Não
foi ele quem nos destinou ao inferno, mas em nossa liberdade temos construído
uma vida infernal, e tal vida não alegra o coração de Deus.
Sim! Ele nos deu a
liberdade, e por ela nos temos experimentado o inferno. Mas Ele não permitiria
que nosso estado eterno fosse o de danado. Por isso Cristo morreu pelos ímpios,
e com isso os justificou! Aleluia!
Que escândalo pode ser
maior que esse o de justificar o ímpio?! O Senhor não está justificando o que
crer, o eleito, o salvo, o remido, o que busca a santidade, o que venceu, o que
conseguiu, Ele justifica o ímpio.
Toda teologia da
justificação não dá conta de abranger tamanho escândalo. E quem compreende pela
fé tal justificação, tal amor escandaloso é tomado de uma paz que o mundo não
conhece “...justificados, pois, mediante a fé, temos...”—não é
teremos e nem tivemos—“...paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” já...
“já passou da morte para a vida”.
O amor
escandaloso de Deus crido e sentido arranca de nós todo medo, e instala em nós
a certeza e a experiência de vida eterna. Sim,
essa fé inclui-nos em Deus de tal modo que já não existe nenhum obstáculo,
nenhuma separação em nós em relação a Deus, visto que o problema da
reconciliação é só do homem, posto que Deus já se reconciliou com o mundo em
Cristo Jesus.
Todas as
vezes que meu coração se angustia na fraqueza e no pecado o Espírito grita em
meu interior o maior dos absurdos – Deus me ama.
Abraão é
chamado de pai da fé porque creu no absurdo. Abraão cria na loucura de Deus,
porque sabia que a loucura de Deus era mais sábia do que a sabedoria dos
homens.
O absurdo
é crer que Jesus é o nosso salvador absoluto, e que seu sacrifício foi feito de
uma vez e para sempre em favor de todos os homens. O absurdo é crer que já está
consumado.
Sim! O
escândalo é eu poder anunciar que eu estou justificado! Eu, que não tenho
nenhum bem em mim, que carrego o pecado e a morte, eu que não tenho como me
justificar, eu sou justificado. Estou coberto de minha nudez, chamado de justo
e por isso posso andar em paz com Deus, com os homens e comigo mesmo.
Com meu
corpo ainda me pego traindo a Verdade que interiormente não tenho como trair
pois ela me consume. E sei que em breve a minha paz será completa, que por
causa dessa terra terrestre ainda não é, mas o amor escandaloso de Deus me
enche de esparrança que um dia esse meu corpo mortal se revestirá de
imortalidade e então o pecado não mais existirá.
Por
enquanto o amor escandoloso de Deus me permite ter a consciência da
reconciliação, que sabe que todas as minhas dívidas foram pagas e cancelados. O
pecado já não me separa de Deus, sua ira não me alcança, porque Cristo já
sofreu todo castigo e toda ira sobre ele caiu.
A mim só
cabe a fé, pois sem fé a salvação é como agua que corre mas nela eu não me
banho, e por causa dessa certeza de total
apaziguamento entre a minha alma e Deus, por causa da convicção total de que os
meus débitos foram todos cancelados—Sim! Por causa disso tudo, eu posso entrar
com cara limpa para além de todos os véus que já foram rasgados por Jesus. De
modo que em Cristo, eu tenho acesso, com intrepidez, a essa graça na qual eu
agora estou FIRME. Agora, isso produz um sentimento de glória na gente que
transcenda o tempo, o espaço, o imediato, .
Sem essa
fé no amor escadoloso de Deus vivemos em amgústias, medos, culpas tentando
tratar essas coisas nos altares religiosos, barganhado com divindades que nada
podem. Mas
quem crer no amor escandaloso de Deus não se detém nas fatalidades pois já
passou da morte para a vida. Já estamos assentados nas regiões celestiais em
Cristo.
O mal perdeu o seu poder
de nos destruir. Sem Cristo, todas as coisas fazem mal. Nele, todas as coisas
cooperam para o bem.
A mediação de Jesus
finalizou todas as coisas em nosso favor. Portanto,
por mais que a vida se torne difícil e estranha e conturbada, saiba que Aquele
que amou antes de você amá-lo, Aquele que se reconciliou com antes de você
aceitar a reconciliação, Aquele que estabeleceu paz em seu favor antes de você
querer pacificação, Aquele que morreu por você sendo você ainda pecador—é Esse
mesmo que agora dá todas as garantias para você de que se Ele lhe fez o bem
quando você não queria o bem, quanto mais agora que você quer o bem; por que o
bem não será seu?
Porque Deus prova o Seu
próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós
ainda pecadores. Porque pudera ser que alguém se anime a morrer pelo homem bom
e pelo homem justo. Talvez. Mas quem é que vai dar a sua vida pelo ímpio e pelo
iníquo? Cristo, no entanto, fez isso por nós antes da fundação do mundo.
Apesar de toda a minha relatividade presente, eu sei quem eu sou
em Cristo. Isso me põe no caminho da vida como ela é, sabendo que todas as
coisas estão contribuindo para construir consciência, fé, dependência, doçura.
Todas as coisas estão acontecendo para que a minha vida seja um choque na
existência, no absurdo, na desgraça, seja o ensino de sabedoria aos principados
e potestades, seja perplexidade para anjos. Esse é o caminho que você está tendo
a chance de percorrer, um caminho que torna anjos perplexos.
Ivo Fernandes
10 de junho de 2018
Os textos em itálicos são de Caio Fábio
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