Deus entre canetas e metralhadoras


Semanas atrás assisti ao filme “exodus” de Ridley Scott. Para mim trata-se de uma releitura política do livro do Êxodo - em que os egípcios fazem o império e os hebreus, os "terroristas", principalmente na frase do rei Ramsés quando depois da 10ª praga que matou milhares de crianças questiona que “deus é esse que mata crianças e que tipo de fanáticos venera um deus assim?”

Essa frase foi a que mais me chamou atenção no filme pois por trás dela está a apresentação que o autor faz de Deus, uma criança irada.

Recentemente fui chamado na internet de “ingênuo” por tentar separar o conceito de islamismo ao de terrorismo em virtude dos assassinatos na França por partes de criminosos fanáticos.

Hoje percebo, mais que há semanas atrás, as semelhanças e relações presentes no filme e nos atentados recentes. O rapaz que me chamou de “ingênuo” disse que os ataques estão diretamente ligados a religião islâmica e a leitura do alcorão, livro que promove todas essas coisas, segundo ele, diferente da bíblia que segundo o mesmo é “inspirada pelo Espírito Santo”. Me acusou de não conhecer história, o que em parte é verdade, mas também parece ter ignorado a história de massacres ocidentais em nome do deus judaico-cristão fundamentados nas escrituras que ele diferenciou do alcorão.

Bom! ao se usar o termo todos, parece se ignorar a realidade, pois assim como não podemos dizer que todo político é corrupto, todo pastor evangélico é ladrão, todo morador da favela negro é marginal, todo padre é pedófilo, todo gay pervertido, também não podemos dizer que todo islâmico é terrorista, pois milhares, assim como em muitas religiões fazem uma leitura atualizada de seus textos sagrados. Ora não é assim que fazemos com o deus que mata crianças do AT?

Sim! Concordo que por trás de toda ação há uma fonte ideológica, ou por trás de toda metralhadora existe uma caneta, seja ela dita sagrada ou não. Fanáticos de todas as espécies usarão seus textos para justificar suas ações, quando elas são muito mais complexas do ponto de vista sócio-histórico-econômico. Ora, mas se textos sagrados promovem isso porque colunas de jornal e charges também não?! Sim, disseminamos o ódio e tudo isso em nome do que muitos chamam de “liberdade de imprensa e expressão”.

O mesmo espírito que provocou a tragédia contra os chargistas, está igualmente presente em nós ocidentais democráticos com o nosso “suposto” espírito de justiceiro, como por exemplo o presidente Bush declarou a “guerra infinita” contra o terror  e para isso violou direitos fundamentais ao permitir prender, sequestrar e submeter a afogamentos a suspeitos; espionando todo mundo no mundo inteiro, além de submeter terroristas e suspeitos em Guantánamo a condições desumanas e a torturas.
O que dizer dos atos dos USA e aliados ocidentais no Iraque?  Guerra preventiva?
Para mim o caminho é aquele proposto por Cristo, que nega que violência tem que ser reprimida com violência. O caminho da paz não é a guerra, mas a própria paz. Abaixar metralhadoras e canetas que intencionam a vitória de alguns, e repartir túnicas, andar duas milhas e voltar a outra face, e persistir nisso mesmo que o sistema nos preguem numa cruz por causa disso!
Ivo Fernandes

10 de janeiro de 2015

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