OS GÊNEROS DE CONHECIMENTO


Temos falado sobre o que tenho chamado de gêneros de conhecimento, e os dividi em três: a imaginação, a razão e a fé. Porém é muito importante a fim de entender o que quero dizer não confundir esses termos com significados já dados por outros.

A intenção de falar desses gêneros é o caminho da liberdade e do domínio próprio. Sabendo que eles fazem parte de nossa vida de maneira tal que a existência de um não anula necessariamente a existência do outro, mesmo confessado a qualidade superior de um a outro.

No gênero de conhecimento imaginação não há uma construção ativa do saber. Trata-se do conhecimento adquirido pela informação alheia associada aos afetos que produzem noções de universais. Ou seja é quando concluímos pela semelhança das coisas uma lei universal. Por essa razão neste gênero do conhecimento impera a superstição, ainda não temos potência o bastante para pensar naquilo que nos acontece, apenas juntamos e separamos as coisas pelos efeitos que nos causam.

Esse tipo de conhecimento é falho porque não conhece as relações, mas apenas os efeitos, é o conhecimento dos efeitos. Conhecimento imediato e por isso mais fácil, mais acessível e por isso a grande maioria das pessoas nunca sai do conhecimento de primeiro gênero.

Apesar disso é desse tipo de conhecimento que se forma nas sociedades a moralidade, pois por meio dela o homem distingue imageticamente o bem e o mal, e nela fica preso porque teme aquilo que foge às leis que sua imaginação criou.

Outra produção deste conhecimento é a religião antropomórfica que cria causas imagéticas para explicar as coisas. Um exemplo disso é a ideia do diabo, que passa a figurar tudo que nos afetou negativamente sem saber de fato nada sobre o acontecimento a não ser seus efeitos.

Porém quando através dos encontros que faço, minha potência aumenta e eu ganho a capacidade ativa de me relacionar com os objetos exteriores em vez de ficar ao acaso dos encontros, estou diante do segundo gênero de conhecimento.
No segundo gênero do conhecimento a mente passa a determinar-se interiormente, ou seja, ela passa a organizar as suas afeções. Saímos do campo da superstição, ou das noções gerais, para o campo das noções comuns: “é o conhecimento das relações que me compõe e das relações que compõe outras coisas” (Deleuze, Curso sobre Spinoza, p. 245). 

Neste gênero do conhecimento, o sujeito passa a entender de que forma as coisas o afetam. Por exemplo, dizem a ele que tal coisa é boa, mas ele começa a perceber que não é sempre que esta relação é boa, às vezes pode ser ruim, depende do modo como ele se relaciona com ela. Ele passa, enfim, se tiver a capacidade suficiente, a organizar seus encontros de modo que sempre se potencializa mais; entende qual a melhor forma de gerar potência, passa a escolher seus encontros ao invés de ficar à sorte deles.

Saímos do campo do signo (primeiro gênero) para o da relação. E portanto uma coisa que no campo da imaginação poderia ser má agora pode ser relacionado de outra forma. Envolve aprender a lidar com tudo a minha volta. É um domínio muito mais profundo do conhecimento porque procura encontrar quais as relações de composição que eu posso estabelecer com as coisas. Não a busca pela verdade ou pelo ideal universal, mas da verdade particular.

Com o segundo gênero do conhecimento, passamos a entender de que forma as coisas se compõe ou não com a gente.  Saímos do campo da moral e entramos no campo da ética. Sabemos que as coisas não são boas ou ruins em si mesmas, mas na relação.

Porém não termina aí a viagem da mente, pois sua virtude suprema consistem em compreender as coisas através da fé, o terceiro gênero do conhecimento. E a fé é gênero que nos faz experimentar a eternidade por trás das coisas, experimentar algo que está fora do tempo, a essência da potência em nós, aquilo que há de eterno e se expressa através de tudo. Não se trata de superstições e tolices mas de intensidade pura. Compreendemo-nos como parte de tudo, ou seja de Deus. Ele supera a razão pois ele anuncia as múltiplas maneiras de existir. Ultrapassamos com ele os modelos e criamos, afirmando nossa potência, efetuando a eternidade em nós. Em outras palavras é Deus em nós, nos fazendo como Ele, inventor e criativo, produtor de si e do mundo. E por meio da fé sabemos que a morte não nos destrói pois sabemos que somos parte de algo que não acaba. É o conhecimento daquilo que é. É um olhar sob a perspectiva da eternidade.

Ivo Fernandes

25 de janeiro de 2015

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