A comunhão para além dos muros de gênero



Leitura: Gálatas 3
“Nem homem, nem mulher”
A expressão em Gálatas “nem homem, nem mulher” sempre foi utilizada na teologia cristã apenas nas questões soteriológicas. Pois do ponto de vista social a igreja na maioria das vezes sempre manteve a clara distinção entre homens e mulheres.

Depois com a discussão feminista se tentou levar a reflexão em torno do termo, para o desmonte do esquema androcêntrico e machista. Hoje com a atual discussão de gênero tenta-se incluir nessas discussões questões que envolve o transgênero.

Mas afinal, o que podemos concluir de tal expressão? Ora, vamos partir do óbvio, o texto não faz referência a questão biológica. Pois em Cristo não está anulada a nossa condição biológica. Portanto nesse quesito, homens     e mulheres serão sempre diferentes, e não há razão da menor discussão em relação a isso. No entanto, homens e mulheres não são apenas condições biológicas, são também condições psicossociais. E aqui é onde a questão deve se concentrar.

Socialmente homens e mulheres sempre se mantiveram distintos por força do controle na maioria das vezes dos homens, reduzindo o papel e o valor das mulheres. E o fundamento de tal diferença sempre foi arbitrário. Hoje, a partir do ponto de vista das ciências sociais e da psicologia, principalmente, o gênero é entendido como aquilo que diferencia socialmente as pessoas, levando em consideração os padrões histórico-culturais atribuídos para os homens e mulheres. Por ser um papel social, o gênero pode ser construído e desconstruído, ou seja, pode ser entendido como algo mutável e não limitado, como define as ciências biológicas.

Portanto socialmente falando não é nossa condição biológica que nos define. Nossa identidade é construída a partir de condições sociais, é aqui que entra outras discussões como a questão transgênero.

Toda discussão que tomou as redes cristãs que se chamou ideologia de gênero nada mais é do que uma disputa social de poder entre as partes envolvidas. Não é uma discussão das condições biológicas, é uma discussão social que envolve funções, poder, lugar que se ocupa no interior de uma sociedade.
A manutenção, portanto, desse tipo de disputa é o contrário do que o Evangelho declara quando diz “nem homem, nem mulher”. A espiritualidade não está atrelada a questão do gênero. Nenhum homem tem mais autoridade espiritual do que a mulher pelo simples fato de ele ser homem. O que qualifica a espiritualidade é o amor, por isso se diz que o homem enquanto cabeça deve amar como Cristo Amou. Ora não é o gênero que o estabelece como cabeça, mas o amor.
Logo, a manutenção de uma hierarquia machista, ou a discussão de poder em torno do gênero não condizem com o Evangelho. A comunhão derruba esses muros e nos torna um só Nele.
Ivo Fernandes
28 de janeiro de 18


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