Adão e Eva ou Adão e Ivo?





Em 2006 escrevi um texto sobre a homossexualidade, postado no meu blog. Quase nada mudou no meu pensar, de lá para cá, sobre esse assunto, exceto a questão da luta política desse grupo de pessoas, pois hoje sou um defensor direto da maioria de suas pautas.
A homossexualidade é um fato, e isso deveria ser o argumento suficiente para acabar com tanta discussão estéril. Qualquer olhar honesto para a vida, descartaria a afirmação ideológica-religiosa que trata a homossexualidade como uma anormalidade da natureza ou como uma mera escolha de todos os indivíduos nessa condição.
Hoje todos os avanços científicos sérios mostram que a orientação sexual é multifatorial, com evidências de contribuições genéticas, psíquicas e ambientais múltiplas. O que nos leva a assumir que posturas simplistas diante do tema é má-fé.
Homossexualidade não é uma invenção da contemporaneidade. As tentativas de explicar a origem da homossexualidade incluem teorias que vão da mitologia à sociologia. Hoje, sabemos que a homossexualidade não é um transtorno mental como foi pensando no século XIX, nem que é reversível como insistem alguns religiosos. A verdade é que por trás desse discurso muita gente ganha muito dinheiro em cima do sofrimento de pessoas. Você goste ou não, entenda ou não, a homossexualidade é uma variação absolutamente natural do comportamento humano.
E o que quero dizer com natural numa linguagem teológica? A existência histórica, ou seja, a existência pós-queda. Então, antes da queda não havia homossexualidade? Não sei! Pois o antes-da-queda, é uma impossibilidade histórica. O que posso afirmar é que tudo que entendemos por orientação sexual, seja hetero ou homo é fruto da existência, e a existência é fruto da Queda.
Logo, se heterossexualidade é natural, homossexualidade também. E como o natural, está dentro da Queda, isso quer dizer que não há modelo de sexualidade espiritual.
Então como fica Adão e Eva? Se assim fosse não era pra ser Adão e Ivo?
Adão e Eva são símbolos de uma mesma realidade, a humana, e não necessariamente de homem e mulher, enquanto gênero.
O gênero original é o humano, constituído de homem e mulher, sem separação. Ou seja, o modelo edênico é de unidade e não sexual, pois ele apresenta dois sendo um, não se tornado um por meio do sexo, mas sendo um a partir da fonte divina, que no símbolo trinitário são 3 em um.
A humanidade é fecunda e criativa e boa. Seja qual for a sexualidade aí presente o que impera é a unidade.
É no relato da Queda, que vemos as primeiras explicações binárias. E já no primeiro relato se constitui aí um binarismo de ordem patriarcal, pois o homem (gênero) passa a ser superior a mulher (gênero). E isso se arrastou por toda a história e ganhou mais força quando o gênero e dimensão biológica se juntaram na modernidade e as estruturas físicas passaram a determinar a lógica do gênero.
Ora, em uma cultura onde o gênero – homem, era superior a mulher, tudo aquilo que ameaça essa lógica era visto como algo a ser exterminado, ou colocado sobre o domínio dessa lógica, como a homossexualidade por exemplo.
No entanto, o projeto edênico não é um projeto sexual, é um projeto de unidade. “Não é bom que o homem esteja só”. A existência é marcada pela lógica do par, não necessariamente sexual, mas o relacional. Ora se sexo fosse espiritual, no céu deveria continuar havendo sexo, mas não é o que está presente no ensino do Cristo.
Uma análise cuidadosa, crítica e não fundamentalista das escrituras, nos revelará que o tema homossexualidade quase não é abordado pelos textos como muita gente acha que é.
Existem dois textos no velho testamento proibindo um homem deitar-se com outro, e um texto no novo testamento associando a prática romana de orgias a um aspecto homossexual. Os demais textos são ambíguos e cabem múltiplas interpretações.
Para um leitor não crítico das escrituras esses textos são suficientes para fazê-los negar a realidade, e a partir daí, construírem suas doutrinas de ódio e preconceito.
É notório que a principal questão dos textos, especialmente os do NT, não são sobre a condição homossexual, mas a condição social em que certas práticas sexuais, provocam a destruição do próximo. Em outras palavras, o pecado é o abuso do outro, e destruição da unidade. Não é a homossexualidade que é pecado, mas a falta de amor para com o próximo.
Adão e Eva ou Adão e Ivo? Qualquer um, pois eu sou Ivo, eu sou Eva, eu sou Adão, e em Cristo eu sou Nova Criatura, revestido de Glória, onde as divisões da existência estão superadas e eu estou em unidade com Deus, com a natureza e com o próximo.

Ivo Fernandes
20 de outubro de 2019

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