SER professor


Da série: Diário de um professor


Hoje, 30 de setembro de 2021, dei minha primeira aula presencial como professor da rede estadual de ensino do Estado do Ceará, e aquilo que é próprio à minha pessoa e ao meu ofício ocorreu, um jogo transferencial de afetos. De um lado, um grupo de jovens visivelmente necessitados de elementos que eles nem sabem o que, do outro um professor que tem na alma o desejo de servir. 

Pois bem, tratava-se de uma turma de terceiro ano, o que vi e ouvi daqueles jovens foram afirmações de impossibilidades e de “não saber”. Poucos projetos, poucos planos. Pensei, então, na diferença da realidade social entre os alunos daquela turma e de tantas outras, onde lecionei, nas escolas particulares. 

Fiz uma pergunta: Quantos aqui desejam ou vão fazer o ENEM, apenas um respondeu positivamente e de maneira muito tímida. Os outros carregavam a afirmação de uma aluna que em uma aula anterior me disse que não faria porque não tinha condições de passar; acompanhada de outra, que disse que primeiro o trabalho, depois pagaria uma faculdade particular. Que contradição social! Quem não pode é justamente o que vai ter que pagar!

Eu estava e cabia a mim fazer alguma coisa, e fiz o que me era próprio. Primeiro me importei com cada um deles, depois, a partir da realidade deles, comecei a ensinar a filosofar. Sim! Mas importante que aprender filosofia, é preciso aprender filosofar! E de repente aqueles meninos e meninas estavam todos participando da discussão que envolveu a necessidade de pensar, o direito, o respeito, a liberdade e o acolhimento das diferenças. A aula passou do tempo e eles não queriam que acabassem. 

Sai daquela aula com a confirmação do que venho dizendo e sentindo. Sou professor e vejo isso como uma missão, uma responsabilidade. Quero contribuir para a felicidade dos meus alunos, independente se vão ou não fazer ENEM. Não me vejo fazendo outra coisa senão semeando um mundo melhor. 

Sai dali e tive vontade de começar a registrar essas experiências, pois talvez ajude outros a se engajarem no projeto de um outro mundo. Pretendo, dentro do possível, me conectar com todos a fim de fazer diferença. E por todos os meios que me for possível. Resgatei até o Tik Tok, e a pedido de alguns alunos, vou retomar o canal do You tube. Vou também criar um programa de Filosofia, semelhante ao PROGRAMA SER que já acompanho. E esse programa foi pedido por alunos do terceiro ano que, depois de assistirem algumas aulas, disseram que não queriam parar de filosofar, e me pediram para ajudá-los. Como dizer não a um pedido desses? Gosto de redes sociais? Nem tanto. Nenhuma habilidade em edições ou coisa parecida, mas tenho vontade de ajudar o maior número de pessoas que puder. 

Cheguei em casa, e recebi um direct de uma aluna de escola particular falando da saudade que ela e sua turma estão sentido de mim, e a única razão é a mesma que me moveu hoje, eu me importo!

SER professor é se importar com seus alunos, muito mais do que com sua profissão ou disciplina. É conectar o fazer ao ser. É entender que ali tem uma história, uma alma que precisa ser efetivamente ouvida e acolhida. 

Agora vou almoçar correndo, pegar minha filha, e logo depois continuar dando aula, hoje ainda há três aulas pela frente!


13h41 do dia 30 de setembro de 2021

Ivo Fernandes

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