Comentário - Texto "Matrimônio e Família"
Comentário sobre o texto “Matrimônio-família: tensão e sentido, conflito e futuro” do livro “Ética civil e Moral cristã em diálogo” de Bartolomeu Benássar.
A leitura do texto “Matrimônio-família: tensão e sentido, conflito e futuro” me foi extremamente agradável. Confesso que me surpreendi visto que pensava se tratar de um texto fechado em suas análises e extremamente dogmático em seus conceitos. Enganei-me. O autor Bartolomeu Benássar se mostrou muito sóbrio em tudo que disse o que neste comentário só poderei concordar com tudo que ele disse apesar de não ver o casamento como sacramento, mas até neste ponto considero o comentário do texto extremamente válido.
A abordagem do autor foi fundamentada na realidade onde há muitas famílias em crise e onde o matrimônio está em crise. E desafiou a igreja a repensar seu modelo de atendimento a essa realidade. Afinal o que nos preocupa mais: a instituição matrimonial, as leis e os documentos, ou o casal, a mulher, o homem e as pessoas?
Vivemos num tempo onde já não impera mais convencionalismos e procedimentos. Um bom número de jovens solteiros vivem juntos sem estarem casados, e muitos deles mantêm relações estáveis análogas a do matrimônio, e isto é uma forma de dizer que o matrimônio instituído não é necessário para o casal. A igreja não pode ignorar essa realidade.
Pastoralmente precisamos apreciar mais o casal e todo o seu significado de dignidade das pessoas, de liberdade, de estabilidade e de amor do que a institucionalização do matrimônio. Pois afinal o que constitui um casamento? Ora o casamento consiste na adesão da vontade de uma pessoa – sentimento e razão – a outra pessoa.
A “indissolubilidade” do casal não depende da assinatura de alguns documentos - mesmo que seja diante da igreja – mas da solução favorável pelos dois membros do casal e para eles, das tensões difíceis e conflitivas. E isso tudo na base do amor. Pois sem amor não há casamento logo não há como falar de indissolubilidade.
Interessante que uma vez falando algo semelhante entre pastores fui admoestado que o casamento não pode viver sob a ilusão do amor e que precisa da força da ordem para continuar a existir. A meu ver isso é profano. Deus é amor e, portanto não há como se está casado diante Dele se não for por amor.
O amor é a consciência de que o outro é igual e diferente, complementar e necessário. Amor que admira e vê o outro, e o conhece, ou seja, o faz nascer, o faz ser. Amor reconhecido e agradecido. Sem amor não há como curar as feridas, reconhecer os erros e agir com perdão. Portanto sem amor não há casamento.
Quando Deus diz “não é bom que o homem esteja só”(Gn 2.18), afirma que, por si mesmo o homem não realiza totalmente sua essência. Ele a realiza unicamente existindo “com alguém” e, mais profunda e completamente, existindo “para alguém”. Assim o homem e a mulher não se casam para satisfazer a concupiscência, nem para a procriação. Eles se casam porque é no amor dirigido ao outro que cada um se completa a ponto de serem feitos um.
Isso é forte e é divino tão quanto é humano. Mas não penso que isso se forme de maneira sacramental. Essa mentalidade que fez do casamento em nossa época o sábado que não pode ser quebrado, senão com risco de condenação é eterna, não carrega o espírito do Evangelho.
O Antigo testamento reflete uma visão “dessacralizadora” do matrimônio ao considerá-lo como uma realidade terrena, regida por costumes familiares e populares, independente de cultos oficiais e de ritos sagrados. No Novo Testamento Paulo fala de um símbolo que se tem no casamento do amor de Deus pela igreja e vice-versa. Assim pela via do símbolo o casamento é o amor entre duas vidas e não o contrato matrimonial diante de qualquer autoridade.
Dessa forma casa-se antes de qualquer celebração ou ato litúrgico. E da mesma maneira que se casa pode se ocorrer a ruptura antes de qualquer documento oficial de divórcio. Deste modo, consideramos o matrimônio como uma união estável e firme, mas não indissolúvel por natureza em virtude de uma lei. Por não pensar assim a igreja tem marginalizado os que na vida se equivocaram ou fracassaram.
Sei que muitos usarão textos bíblicos para tentar refutar o que aqui escrevo, mas o Evangelho nos mostra o ideal, mas nos mostra que no caminho as falhas na busca do ideal são vistas com misericórdia. O que falta é a igreja pastorear as ovelhas, conforme o pedido de Jesus a Pedro. Falta-lhe entender que o casamento está baseado no amor e que, contudo a ruptura real e irreversível da vida matrimonial reclama a possibilidade de um recurso ao divórcio, o que às vezes como fala Caio Fábio é um mal menor.
Diante da realidade do divórcio a igreja deveria ajudar na recuperação das pessoas, não para o bem do vínculo que já não existe, buscando caminhos e soluções, nunca fechando as porta à possibilidade de um novo casamento. As pessoas casadas e agora divorciadas e/ou casadas de novo, não deveriam ser excluídas da comunidade sob nenhum aspecto.
A Ele seja a Glória
Ivo Fernandes
A leitura do texto “Matrimônio-família: tensão e sentido, conflito e futuro” me foi extremamente agradável. Confesso que me surpreendi visto que pensava se tratar de um texto fechado em suas análises e extremamente dogmático em seus conceitos. Enganei-me. O autor Bartolomeu Benássar se mostrou muito sóbrio em tudo que disse o que neste comentário só poderei concordar com tudo que ele disse apesar de não ver o casamento como sacramento, mas até neste ponto considero o comentário do texto extremamente válido.
A abordagem do autor foi fundamentada na realidade onde há muitas famílias em crise e onde o matrimônio está em crise. E desafiou a igreja a repensar seu modelo de atendimento a essa realidade. Afinal o que nos preocupa mais: a instituição matrimonial, as leis e os documentos, ou o casal, a mulher, o homem e as pessoas?
Vivemos num tempo onde já não impera mais convencionalismos e procedimentos. Um bom número de jovens solteiros vivem juntos sem estarem casados, e muitos deles mantêm relações estáveis análogas a do matrimônio, e isto é uma forma de dizer que o matrimônio instituído não é necessário para o casal. A igreja não pode ignorar essa realidade.
Pastoralmente precisamos apreciar mais o casal e todo o seu significado de dignidade das pessoas, de liberdade, de estabilidade e de amor do que a institucionalização do matrimônio. Pois afinal o que constitui um casamento? Ora o casamento consiste na adesão da vontade de uma pessoa – sentimento e razão – a outra pessoa.
A “indissolubilidade” do casal não depende da assinatura de alguns documentos - mesmo que seja diante da igreja – mas da solução favorável pelos dois membros do casal e para eles, das tensões difíceis e conflitivas. E isso tudo na base do amor. Pois sem amor não há casamento logo não há como falar de indissolubilidade.
Interessante que uma vez falando algo semelhante entre pastores fui admoestado que o casamento não pode viver sob a ilusão do amor e que precisa da força da ordem para continuar a existir. A meu ver isso é profano. Deus é amor e, portanto não há como se está casado diante Dele se não for por amor.
O amor é a consciência de que o outro é igual e diferente, complementar e necessário. Amor que admira e vê o outro, e o conhece, ou seja, o faz nascer, o faz ser. Amor reconhecido e agradecido. Sem amor não há como curar as feridas, reconhecer os erros e agir com perdão. Portanto sem amor não há casamento.
Quando Deus diz “não é bom que o homem esteja só”(Gn 2.18), afirma que, por si mesmo o homem não realiza totalmente sua essência. Ele a realiza unicamente existindo “com alguém” e, mais profunda e completamente, existindo “para alguém”. Assim o homem e a mulher não se casam para satisfazer a concupiscência, nem para a procriação. Eles se casam porque é no amor dirigido ao outro que cada um se completa a ponto de serem feitos um.
Isso é forte e é divino tão quanto é humano. Mas não penso que isso se forme de maneira sacramental. Essa mentalidade que fez do casamento em nossa época o sábado que não pode ser quebrado, senão com risco de condenação é eterna, não carrega o espírito do Evangelho.
O Antigo testamento reflete uma visão “dessacralizadora” do matrimônio ao considerá-lo como uma realidade terrena, regida por costumes familiares e populares, independente de cultos oficiais e de ritos sagrados. No Novo Testamento Paulo fala de um símbolo que se tem no casamento do amor de Deus pela igreja e vice-versa. Assim pela via do símbolo o casamento é o amor entre duas vidas e não o contrato matrimonial diante de qualquer autoridade.
Dessa forma casa-se antes de qualquer celebração ou ato litúrgico. E da mesma maneira que se casa pode se ocorrer a ruptura antes de qualquer documento oficial de divórcio. Deste modo, consideramos o matrimônio como uma união estável e firme, mas não indissolúvel por natureza em virtude de uma lei. Por não pensar assim a igreja tem marginalizado os que na vida se equivocaram ou fracassaram.
Sei que muitos usarão textos bíblicos para tentar refutar o que aqui escrevo, mas o Evangelho nos mostra o ideal, mas nos mostra que no caminho as falhas na busca do ideal são vistas com misericórdia. O que falta é a igreja pastorear as ovelhas, conforme o pedido de Jesus a Pedro. Falta-lhe entender que o casamento está baseado no amor e que, contudo a ruptura real e irreversível da vida matrimonial reclama a possibilidade de um recurso ao divórcio, o que às vezes como fala Caio Fábio é um mal menor.
Diante da realidade do divórcio a igreja deveria ajudar na recuperação das pessoas, não para o bem do vínculo que já não existe, buscando caminhos e soluções, nunca fechando as porta à possibilidade de um novo casamento. As pessoas casadas e agora divorciadas e/ou casadas de novo, não deveriam ser excluídas da comunidade sob nenhum aspecto.
A Ele seja a Glória
Ivo Fernandes
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