Confesso
Deus,
Tu que és Mistério
Tu que olhas e a tudo vê.
Quem de ti se esconde?
Quem pode fugir da tua presença?
Meus atos e pensamentos estão diante de Ti
E até o que de mim não sei Tu conheces muito bem
Mas o que sei quero confessar diante de Ti e dos meus irmãos
Quero confessar que não sou quem muitos pensam que sou
Não, não sou o monstro e não sou o anjo
Não tenho uma grande história e poucas coisas foram realmente como parecem
Sou apenas mais um filho que neste Brasil seu pai não o reconheceu e sua mãe não o criou porque sua família não o quis
O que isso faz de mim senão mais um
No entanto sou agraciado, pois encontrei um lar e duas mulheres que em tudo foram mães
Não sei como foi o resto
Nem sei se fogo existiu ou se tudo não representa apenas o fogo da minha alma que conheceu o inferno
Sei o que me contam
Mas quem conta a verdade?
Sei que sobrevivi
Fui menino só
Mas minha solidão foi bem aproveitada
Escrevia e imaginava
Quem acertou e quem errou?
Todos nós acertamos e erramos
Confesso que nasci pecador
Nasci do pecado
E o pecado se fez ato em mim muito cedo
As marcas deste pecado hoje são a dor que carrego e o espinho que suporto
Quem explicará?
Será normal?
O que é normal?
Fui um menino como milhares neste solo
Pequei como milhares
Mas o pecado só se tornou pecado quando conheci a lei
E o que antes em mim era apenas ato depois era desejo
Confesso que foi a Tua Graça ó Deus que me salvou
Não te busquei e Tu me encontraste
Não te pedi perdão e tu me perdoaste
Não te amei e Tu me amaste
E nas lágrimas da minha adolescência eu ti vi como Pai
Meu encontro contigo não foi na igreja ao levantar a mão
Nem no sono da noite quando arrebatado falei em outras línguas
Meu encontro contigo foi quando gritei Pai e Tu me ouviste
Amei-te como um filho ama desesperadamente o Pai que não quer perder
E foi a Tua presença que me salvou das ondas da minha mocidade
Quem me livrou da morte?
Quem me livrou de me prender nos laços?
Quem me livrou das trevas?
Mil caíram a minha direita, dez mil a minha esquerda e eu fui guardado
Por quê?
Porque Tu és Bom e a Tua misericórdia dura para sempre
Confesso que fui ingênuo e ao mesmo tempo sem juízo
Confesso que tentei ser o melhor
Confesso que servi com dedicação
Confesso que tudo desmoronava
Confesso que fiz chorar e chorei
Confesso que meus atos como homem foi quando deixei de ser menino
E isso não é lógico?
O que é a lógica?
Confesso que sofri doidamente
E o sofrimento muitas vezes tira de nós a sabedoria
Agi pensando estar pensando e errei
Mas quem sabe o caminho certo?
Confesso que em tudo a religião evangélica me fez mal
Mas em tudo recebi bem
Quando o homem esconde de que é feita sua casa todos se espantam quando o vento a derruba
Cai e toda bela construção veio abaixo
Mas vivia num mundo de ilusões e poucos viam a verdade
Só restam equívocos e acusações
Mas quem conhece o coração do homem?
Confesso que perdi amigos e amores
Confesso que perdi prestígio
Confesso que tentei construir algo
Confesso que cri quando subi na monte para sacrificar o filho gerado
Quem entendeu?
Quem do meu lado ficou?
Quem compreendeu meu silêncio?
Quem perguntou de mim?
O perfeito se quebrou
O tabu foi desfeito
E quando me perdi me achei
E quando morri ressuscitei
E quando cai voei mais alto
Confesso que a Graça a mim se revelou
E o impossível começou a ser
E aos que diziam que para mim não havia salvação Deus disse: Eu o justifico. Quem o condenará?
Confesso que ainda lutei com o anjo
Confesso que me feri
Confesso que me libertei
Eis o Caminho para que Nele eu ande
Ainda sou o paradoxo
Ainda sou a carne, mas já sou o espírito
Estou no corpo, mas há outro sendo preparado
Ainda choro a minha dualidade, mas creio na Unidade com Aquele que É
Hoje eu confesso meus erros e peço perdão a todos os que feri com meus atos.
Ivo Fernandes
Em 25 de outubro de 2007
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