A ética do Reino
Quando falamos em ética é natural associarmos esse tema aos valores morais de uma sociedade, mas quando nos referimos à ética do Reino não podemos fazer isso, pois a moral que é a base do conhecimento humano sobre o “certo e errado” nasce da condição alienada do homem de Deus. Assim, as expressões “bem e mal”, “moral e imoral”, “valor e sem valor”, “autêntico e não autêntico” não são termos que se aplicam quando falamos de ética do Reino.
Enquanto a moral divide a vida entre coisas permitidas e proibidas a ética do Reino aponta para o que É. Todo conhecimento moral é um conhecimento humano, que está direcionado para si mesmo, ou seja, a moral nasce do olhar do homem posto sobre si mesmo. Por meio dela os homens criam suas leis e exercem seus juízos.
Jesus que anunciou a ética do Reino está na contramão desta moral. Por isso não encontramos verdadeiro diálogo entre Ele e os fariseus que tão bem representavam a moral, e isso porque Jesus e os fariseus estavam em níveis completamente diferentes de realidade. As respostas de Jesus não respondiam a pergunta do fariseu por não ser da mesma natureza.
A moral nasce marcada pela culpa e pela vergonha. A consciência humana é marcada por este estado, e, portanto, busca sempre resolver esta tensão. A religião é a que melhor apresenta essa tensão, esse conflito entre o “bem e o mal”, e por meio dela sempre se tentou trazer Deus para nossa esfera de conhecimento, buscando Dele uma resposta de acordo com nossa pergunta, porém Ele não age a partir do conhecimento do bem e do mal.
Jesus nos apresentou a ética do Reino como anulação da moral, pois se o Reino é Reconciliação e a moral a afirmação da alienação, onde houver o Reino não haverá moral, mas apenas Unidade. Na moral não há mudanças de realidade, mesmo cumprida o “bem” da moral ela não altera o estado de alienação humana.
Onde houver juízo que separa, há moral como base do juízo. Onde houver moral está presente o estado da alienação. Onde houver Reino há a vontade de Deus que é a reconciliação. E a vontade de Deus é um saber que não se configura como saber humano, antes é um saber sem saber do “bem e do mal”, mas apenas da reconciliação. E quem sabe este não-saber sabe todas as coisas.
O religioso por saber o “bem e o mal” classifica meritoriamente seus atos, fazendo de seu bem um mal. Os filhos do Reino não sabem do “bem”, mas apenas do que É, por isso, são surpreendidos quando isso os for revelado (Mt 25.31ss.).
Nem mesmo o auto examinar-se dos filhos do Reino é realizado por este saber alienado, mas em Cristo, por meio do qual sabemos a vontade de Deus. Assim sem Cristo em nós não há como se fazer exame de si mesmo.
O saber dos filhos do Reino é o saber do Amor, que é a revelação de Deus, Jesus Cristo. Este saber tem origem em Deus e não em nós, assim este Amor é divino. E entre os homens o divino chama-se Cristo. Amor é sempre Ele mesmo. E ele é a reconciliação de todos em Si mesmo. Desta forma concluímos que onde houver um saber que separa, que divide, que segrega, que julga, que exclui ali não há o Reino.
Ivo Fernandes
14 de maio de 2009
14 de maio de 2009
Comentários
Outra coisa, naquele livro "Religião, uma bandeira do inferno", o Glenio faz um apanhado ao longo da bíblia de personagens que encarnam a religião (moral) e os contrasta com personagens que encarnam o a Graça do Evangelho, (ausência de moral). E mostra que a moral (Caim) sempre persegue o Evangelho (Abel). Ele só tem um exemplo lá que não é muito feliz, mas o livro é massa. Tem muito do Dietrich Bonhoeffer nisso ne?
1- (http://www.notapositiva.com/resumos/filosofia/eticavsmoral.htm)
2- (http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/42450)
O 1° combina com o seu raciocínio, que é o que creio. O 2° diz que há muita divergência no significado desses vocábulos. Diz inclusive que o católico entende de uma forma diferente da do protestante.
Você se baseou em alguma fonte para embasar teu argumento sobre moral e ética?
Quanto ao Bonhoeffer, tem muito dele sim!
Abração
Parabéns pelo conteúdo.