Esse que sou eu
É engraçado como muitos me enxergam, mas nem sempre achei graça das muitas interpretações a meu respeito.
Quando estava no ventre, meu pai considerou que por não ser filho legítimo (ou seja, de sua esposa) não era filho dele. Muitos acharam que nem iria “vingar” de tão doente que era quando recém-nascido. A mulher que me levou para criar, foi impedida pelo marido de fazê-lo, assim acabei sendo criado pela mãe dela.
Na infância ouvi várias vezes que não era filho da casa, era apenas alguém que foi criado por eles. Assim não era visto de maneira semelhante. Lembro que não podia ter um brinquedo senão as outras crianças da família não gostariam, assim só podia ter o que pudesse ser dados a todos.
Não podia ter amigos na rua porque me diziam que eu não era igual a eles. Assim fui criado num universo feminino, já que nenhuma figura masculina havia. Isso me fez ser alvo de novas interpretações. O que diriam de um menino, que conhecia Vinicius de Moraes, escrevia poesia, tinha a letra redonda, sabia cozinhar, e gostava de novela? E ao mesmo tempo, não sabia jogar futebol, nem soltar pipa, nem surfar, nem brigar?
Pois bem era “menina” demais para me deixarem participar dos grupos. O que me sobrou? A turma das meninas e dos gays. Resolvido? Não! Os gays não entendiam porque não tava afim de algo com eles e deseja meninas. Para os gays eu era macho demais. As meninas me adoravam e isso me rendeu boas experiências, mas seus pais não gostavam de mim, então não poderiam me assumir, pois além de não fazer parte de nenhuma turma específica ainda era evangélico.
Na igreja evangélica desde cedo também fui interpretado de diversas formas. Na infância era aquele que jamais seria como as irmãs, que desde muito cedo eram dedicadas a diversas atividades da igreja. Era visto pelos mais “santos” como má influência para seus filhos. Na casa que eu morava ninguém me via como evangélico. Alguns até pensavam que era “filho de santo”, outros católico, talvez seja por isso, que fui dedicado na umbanda, batizado na igreja católica e evangélica, e fiz primeira comunhão e aceitei a Jesus.
Quando comecei a pregar a confusão continuou, uns amavam, outros achavam subversivas as minhas mensagens. Isso se desenvolveu até muitas formas de me denominarem começarem a me acompanhar. Para uns um batista apaixonado por bíblia, para outros um presbiteriano frio, outros me acham um profeta pentecostal, outros um liberal. E se pensa que quando deixei o movimento evangélico isso virou coisa do passado, engano. Hoje, mesmo fazendo parte de um movimento livre como é o Caminho da Graça, não fui salvo das interpretações, soube que para uns sou um evangélico enrustido, porque em algumas reuniões prego usado um púlpito. Para outros sou um liberal perigoso. Já disseram que sou cópia do Caio e outros que não faço parte do Caminho por ter uma identidade diferente.
Enfim, a minha história é cheia dessas interpretações. Se eu fizesse uma pequena lista de como me veem agora teria mais ou menos essa coisas: Um santo; um safado; um bom marido; um comedor das meninas da igreja; um bom pregador; um teólogo liberal; um crente; um espírita; um católico; um macumbeiro; um mentiroso; um sedutor; um bom homem; um aproveitador; um cabra macho; uma bicha enrustida; um heterossexual; um homossexual; um bissexual; um salvo; um perdido; um anjo; um demônio; e isso só porque não quero me estender muito.
Afinal, quem sou eu? Porque tantas interpretações? Bom! Talvez porque de fato eu seja tudo isso que dizem, e mais um pouco, que por se dedicarem tanto a me interpretarem perdem de conhecerem.
O que sei, é que sigo em paz, com uma consciência grata por estar tranqüilo com o que sou e aberto para o que vou sendo nesse processo contínuo de tornar-se.
Ivo Fernandes
15 de junho de 2011
Comentários
um abração Ivo.
continui sendo o que vocÊ é ( até onde conheço ) autentico.
Amo você e isso me faz tão bem!!
Cris
Gotei muito de ler. Muito bacana.
Eu desejo que Ele se revele a você todos os dias, suprindo você com todo o amor que os caolhos e parciais não podem conceber. Você e cada um de nós somos um eterno flagrante diante daquele que nos acolhe e nos escolhe perdoar sempre.
Para Aba, você é o "filho amado". Isso deve bastar!