O Pai Nosso
Pai Nosso, uma declaração de fé e
esperança que independentemente da situação nos mantém em paz. É a certeza de
que não há limites para o amor de Deus, que nada está fora Dele. É o fim da
imagem partida de Deus, e o começo da imagem familiar para todos os povos. E
esse pai não é somente de alguns entre os povos, mas, de todos os homens, noz
fazendo entender que não pode ter a Deus por Pai aquele que não tiver o próximo
por irmão.
Que está nos céus, um Pai não
ligado a lugares sagrados, nem a raças específicas, que não concentra Sua
presença em templos, estando para além de tudo, mas encobrindo tudo e tudo
penetrando, mesmo que não se confunda com sua criação. Um Pai que se mantém
distante para não ser confundido com nossos ídolos-pais criados por causa de
nosso narcisismo infantil. Sua distância nos desafia a abandonar os medos
infantis e andarmos por fé em meio às contradições do mundo.
Santificado seja o Teu Nome, um
Pai íntimo, mas Santo, portanto totalmente Outro, nos impedindo de fazer dele
fantoche de nossos jogos egoístas. Diante Dele só nos resta à reverência, por
estarmos diante do inefável, do inigualável, do impossível aos homens. Porém
esse mesmo Deus identifica-se com os homens em Sua humilhação e aqui mora a
manifestação de Sua santidade, a extrapolação de Si mesmo em direção ao outro.
Desta forma não reconhecemos a santidade de Deus quando o consideramos um
“resolve-problema”, nem quando tentamos defini-Lo em doutrinas ou sentenças.
Não o santificamos por meio de ritos religiosos, mas quando caminhamos em
direção ao próximo para o bem. Nossa esperança é que Ele santifique o Seu nome
entre nós.
Venha a nós o Teu Reino, Reino
que é estrutural e terminal, significando o fim do mundo. Um Reino de paz e
justiça e alegria entre os homens. Reino manifesto no Cristo ressuscitado, nos
enchendo de esperança na Plenitude.
Seja feita a Tua vontade, assim
na terra como no céu, que é o próprio Reino.
O pão nosso de cada dia nos dá
hoje, pois nem só de pão vive o homem, mas também de pão, pois somos homens e
não sombras, filhos da terra e não somente dos céus, e vivemos como uma família
humana, por isso o pão é nosso, é o pão do Reino, e nossa esperança é que este
pão compartilhado seja uma realidade hoje.
Perdoai as nossas ofensas assim
como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, uma confissão de nossa condição, um
reconhecimento de nossa natureza, pois se dissermos que não temos pecado
enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não habita em nós. É também a declaração
de fé no Amor de Deus que não conhece limites para perdoar, mas que, porém sem
abertura do pecador para o perdão fica numa condição de morte. Porém uma vez
aberto ao perdão, que nos é dado sem condições prévias, somos tomados pela
graça que também nos faz perdoar da mesma maneira. Perdoamos não para ser
perdoados, mas porque fomos mergulhados no perdão. E mergulhados em Deus
sabemos que estamos mergulhados numa
relação que se revela na relação com o próximo, então não se pode ter
atitudes diferentes em relação a Deus e ao próximo. Quando amamos a Deus amamos
o próximo, quando perdoamos o próximo é porque somos perdoados por Deus.
E não nos deixeis cair em
tentação, pois somos seres ontologicamente desequilibrados, seja em razão da
falta ou da abundância, nos percebemos em desarmonia, numa luta entre a carne e
o espírito, que em si não podemos chamar de má tal situação, mas que, porém
precisamos dar conta. O pecado é uma condição, fomos criados na liberdade,
portanto para a possibilidade do pecado, e esse mistério já nos anuncia a
Graça, pois se nascemos no solo da Graça só neste mesmo chão tudo ganhará seu
sentido e propósito. Daí para o pecado só a Graça, e a tentação que temos de
ser livre é a de negar a realidade do chão da Graça onde somos uma perfeita imperfeição.
Quando negamos nossa condição nos enchemos da soberba de queremos ser como
Deus, nos fragmentando de maneira trágica. O caminho contrário da soberba é o
caminho da fé.
Mas livrai-nos do mal, mal que
teve no decorrer da história diversas corporificações, e no nosso tempo, ou
pelo menos para mim, é esse espírito-sistema de egoísmo excludente que ignora
milhões de seres humanos em suas desgraças. Preciso ser livre desse mal que me
seduz e uma vez me tomando pode deixar meu coração insensível diante da
injustiça e iniquidade do mundo.
Amém, pois com Jesus concordamos,
e a Deus damos razão, confiando plenamente em suas promessas, mantendo a
esperança, e lutando pelo Reino.
Ivo Fernandes
2011
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