Caminho da espiritualidade – da solidão para a compaixão
Já está claro para nós que
solidão não se refere a isolamento, que na verdade esse encontro conosco mesmos
é essencial para todo e qualquer outro encontro. Na verdade, a solidão
necessariamente nos levará ao encontro da vida, e jamais a fuga da mesma.
Pessoas que negam o mundo como ele é e criam suas tranqüilidades artificiais
são auto-enganadas.
O caminho da espiritualidade
acontece no solo da realidade, e desenvolver a mesma requer a capacidade de me
envolver com o mundo a minha volta. Não podemos contemplar nossa história sem
perceber as relações que ela possui com a história do mundo. Precisamos ter uma
relação simbólica com o mundo, e unir, reunir os eventos exteriores com os
interiores. Não somos chamados para posturas diabólicas divididos entre uma
coisa e outra, somos chamados a reconciliação.
Assim, precisamos olhar a vida
com todas as suas surpresas e interrupções como possibilidades de nos revermos,
de nos refazermos. Porém muitos questionam a possibilidade real disso.
Suportaremos a realidade? Como enfrentá-la sem nos tornamos paralisados, deprimidos,
ou mesmo cínico? A resposta está na solidão. É a partir dela que percebemos os
muros que erigimos para evitar conhecer e sentir o fardo da dor humana. Na
solidão ouvimos e não só ouvimos, mas percebemos o quanto somos iguais em tudo.
O humano não nos é mais estranho. O mal do mundo é também o meu mal, e o bem do
mundo também é meu. Somente com essa percepção damos o salto do orgulho para a
compaixão. E da solidão nos envolvemos com as questões humanas, deixando a
hostilidade em direção a hospitalidade.
Ivo Fernandes
11 de março de 2012
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