2013, as aventuras de Pi e minha fé
Ontem fui questionado por um grupo de pessoas
sobre minha religião. Procuravam saber minhas posições religiosas e em que
acreditava. E minhas respostas quase nunca são aceitas facilmente, isso porque tenho
assumido nos últimos anos uma espécie de sincretismo, ou como tenho preferido um
casamento entre várias crenças e tradições religiosas.
Muitos não aceitam o fato de eu crer em
Cristo como Filho de Deus e ao mesmo tempo carregar no pescoço um Masbaha, terço islâmico, no
dedo um anel hindu, realizar meditações budistas, dançar ao som dos tambores
africanos, e ainda estar aberto ao Mistério que me rodeia e me fascina
manifesto entre os povos do mundo.
Porém já não me importo muito com o incômodo das
pessoas com relação a isso. Estou em paz comigo mesmo. Não me sinto traidor de
nada, e minha fé nunca foi tão madura e tão infantil, por isso mesmo tão
verdadeira como agora.
E para minha surpresa foi muito gratificante assistir
no começo deste ano o filme “As aventuras de Pi”(Life of Pi) que conta a história do garoto indiano Piscine Molitor Patel, onde questões espirituais
são tratadas na trajetória do protagonista reconhecido pelo apelido Pi. Apesar
de filho de representantes da Índia moderna, mais afeitos à ciência do que a
religião, na infância o garoto Piscine ensaia aproximações com o hinduísmo, o
cristianismo e o islamismo. Na idade adulta, ele discorre sobre hábitos do
judaísmo também. O sincretismo do personagem é capaz de ajudá-lo em situações
extremas, como na sobrevivência a um naufrágio e o encontro com a natureza,
representada no corpo de um tigre de bengala. As indagações de um ser humano
imantado por sua relação com várias crenças dão ao título uma espécie de
dimensão religiosa.
Nem sei direito o que os amigos mais chegados e
familiares pensam bem sobre essas coisas que agora escrevo. Sinto algumas reações
que vão de admiração a espanto. Muitos pensam tratar-se de uma brincadeira
minha, outros pensam ser estratégia. Alguns me consideram perdido. Mas eu mesmo
me considero achado, encontrado pelo Amor.
Sim! Eu creio! Creio no Mistério! Sei que
alguns dirão como o pai de Pi, Santosh
Patel, que crer em tudo é a mesma coisa que não crer em nada. Que é
preciso se decidir. Mas eu me decidi, minha decisão não cabe numa religião
apenas, e nem na soma de muitas, mas todas elas cabem e ainda sobra muito na ideia
sobre Deus.
No
filme o escritor que visita Pi é desafiado a ouvir sua história e depois
decidir se crer ou não em Deus. Durante a trama, a questão da religião, da
razão e da dúvida são abordados, e no fim Pi apresenta duas versões para a sua
história, concluindo que nas duas versões os sofrimentos são os mesmos, porém
uma versão é seca, sem encanto, sem magia, sem fé, e outra é completamente
mágica, e ele pergunta ao escritor qual história ele prefere. Ele responde “a
quem tem o tigre”. E Pi termina, é assim também com Deus.
O
filme termina com aquela sensação que pergunta: é uma fábula
ou história real? Da minha parte decidi seguir minha vida, cheia de sofrimentos
e dores, com a beleza da fé. E “A fé
pode ser edifício com muitos andares, com um cômodo reservado para a dúvida em
cada um deles”.
Igual a Pi é a esperança
que me move. Foi ela que me fez atravessar o turbulento mar de 2012, cheias de
tempestade, num barquinho pequeno na companhia de um tigre que por vezes me
espantou mas com o qual aprendi a viver e me encantar, e da mesma forma que
chegou foi embora, apesar de jamais ter saído de dentro de mim.
Que o ano de 2013 seja
cheio da riqueza de luz, brilho, magia e encanto presente no filme, nas
religiões e dentro da minha alma.
Ivo Fernandes
3 de janeiro de 2013
Comentários
"Sim! Eu creio! Creio no Mistério! Sei que alguns dirão como o pai de Pi, Santosh Patel, que crer em tudo é a mesma coisa que não crer em nada. Que é preciso se decidir. Mas eu me decidi, minha decisão não cabe numa religião apenas, e nem na soma de muitas, mas todas elas cabem e ainda sobra muito na ideia sobre Deus."
é isso!!!
Abraços.