Homenagem aos mortos
Uma frase muito comum nos ensinos familiares é “temos que
aprender a viver”. Já uma bastante incomum é “temos que aprender a morrer”.
Quase nos dizendo que vida e morte são tão antagônicas que tais ensinos não
podem ser dados ao mesmo individuo. No entanto o que vemos a cada dia é uma
geração que não sabe viver, justamente porque não sabe morrer.
No texto que discursei sobre a linguagem e a morte, disse que
só o ser humano morre, fato explicado pela questão da consciência. Só o homem
sabe-se finito, sabe-se ser-para-a-morte. Não é por acaso que para Platão, o
filósofo é aquele que aprendeu a morrer.
É justamente no pensar sereno sobre a morte que pensamos
melhor a existência. Mas como pensar sobre algo que não sabemos? Só vejo um
jeito, inventando, criando! Sim, devemos criar o sentido da morte e assim
inventar um sentido para a vida. Dessa forma não ficaremos presos aos cultos
fúnebres, mas apenas daremos a eles o que cabe, o tempo das lágrimas
necessário.
A morte inventada é morte como arte, e arte não se interpreta,
se inventa, se intertrepa. Podemos e
devemos fazer da morte uma força positiva da vida. Por isso que melhor do que
ornamentar túmulos em homenagem aos mortos, a melhor maneira de homenageá-los é
vivendo.
A morte seria o fim? Só se tivermos falando das estruturas
orgânicas. A morte não pode matar a vida, talvez seja esse o grande ensinamento
da ressurreição – a vida não morre.
Mas você pode me perguntar: como inventar a morte? Eu não
poderia lhe responder, pois isso seria lhe oferecer modelos que matariam sua
criatividade. Cada um de nós é autor solitário desse processo inventivo.
Desejo então uma boa morte para todos!
Ivo Fernandes
2 de novembro de 2013
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