Adoração
Não desejo conceituar
adoração. Não desejo criar modelos. Adoração como ato da alma a Deus não pode
caber em modelos particulares ou definições quaisquer. A alma é livre para
adorar. O fato é que as Escrituras bíblicas nos chamam para adorar:
É sabido
que podemos adorar com conhecimento ou não, ou seja, pode-se adorar com a
consciência ou na ignorância, movido apenas pela fé que nada sabe, mas que
direciona. (Jo 4.22; 9:38; Rm 12.1). Não é exatamente o conhecimento que
determina a verdade da adoração, mas o estado do espírito frente ao sagrado (Jo
4.24), e frequentemente é esse estado do espírito em adoração que diferencia um
adorador de um mero religioso que observa ritos e obedece a liturgias.
Abraão
adorou o Senhor na perplexidade e diante do absurdo, quando foi lhe pedido que
sacrificasse seu filho (Gn 22.5). Porque ele adorou? A adoração não era
garantia, troca, era mergulho cego no Amor de Deus frente à insanidade da
circunstância.
O livro do
Êxodo nos mostra que o povo hebreu foi chamado para adorar no deserto. Que
local mais inapropriado para se adorar, se pensarmos adoração como apenas
gratidão. A adoração não era para agradecer por algo recebido, mas dinâmica,
poder, força na própria caminhada.
Davi é
conhecido como exemplo de adorador. Sob que circunstância ele adorou? Com que
estado emocional? Com que objetivo? A adoração era a condição fundamental de
Davi, não importando o estado em que se encontrava ele adorava, talvez por isso
fosse chamado um homem segundo o coração de Deus (At 13.22).
Enfim, são
muitos os exemplos bíblicos, mas gostaria de destacar o exemplo de Jó por uma
única razão, este homem justo teria muitas razões para ter outra postura frente
às desgraças que lhe aconteceram, mas ele decidiu, escolheu adorar (Jo 1.20). E
adoração de Jó não era conforme a adoração dos interessados, não era a adoração
dos teóricos, não era a adoração dos machucados, não era a adoração do lamento,
era ao contrário a adoração da consciência pacificada que não atribui a Deus o
que é próprio da existência.
E na minha
vida o que aprendi sobre adoração a partir das minhas experiências? Se que sou
um adorador, não me perguntem os ‘como’ dessa afirmação. Sei que minha alma
está para o sagrado, não posso negá-lo e, ou mesmo viver longe. Minha mente já
viajou por muitos mundos conceituais, já mudei de posicionamentos teológicos e
filosóficos, já abandonei liturgias e instituições, mas jamais deixei de
adorar. Sim, nunca adorei o conteúdo do meu saber teológico-filosófico, adoro
Aquele que me move a produzir esse saber. O conteúdo muda, não Aquele que me
move, logo não muda minha condição de adorador.
A semelhança dos citados, mas dentro dos meus
próprios contextos, adorei diante do absurdo. Adorei quando a mente negava o
conteúdo da fé, tive fé contra a esperança. Dei razão a Deus quando nada fazia
sentido. O Senhor provou minha fé e me mostrou um caminho sobremodo excelente.
Adorei na alegria, na tristeza, entre amigos e na solidão, em santidade e em
pecado, tendo tudo e não possuindo nada, adorei porque não tenho outro caminho a
seguir. Deus é meu advogado diante Dele mesmo! Adorei confessando que tudo é
dele, o bem e o mal, a luz e as trevas, todas as coisas e também minha alma.
Adorei sem atribuir a Deus culpa alguma.
Enfim,
adorei quando a morte chegou. Ela não encontrou lamentos, mas um espírito forte
num corpo fraco. E a força do meu espírito é a própria adoração. Ela nunca foi
um caminho para a vitória, mas minha própria vitória. Ela nunca foi estratégia
para alcançar ou atrair a Deus, ela é a condição consequente da habitação do
Espírito em meu ser.
Não há
modelos, formas, moldes. Não há como adorar sobre comando de outros, pois
adoração não é uma obrigação religiosa, mas uma escolha da alma. Só adora
aquele que não tem outro bem além do Senhor!
Ivo Fernandes
30 de março de 14
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