Jesus a chave hermenêutica para a interpretação das escrituras
No decorrer desses anos, anteriormente como
professor de teologia e agora de filosofia, e sempre como pregador e líder
religioso percebi que o nó que impede a maioria dos cristãos encarnarem o
espírito do Evangelho é a doutrina da inspiração verbal e plenária das
escrituras e sua interpretação dogmática-sistemática. Em outras palavras parece
que o grande problema dos cristãos é a bíblia.
Porém quando surge na história do cristianismo, e
nós não somos os primeiros, nem seremos os últimos, que falam das escrituras
fora desse enquadramento teológico, somos vistos como heréticos, que não
possuem apreço pelas sagradas letras. Nada mais mentiroso.
Apenas entendemos que a bíblia não é o próprio
Deus, a ponto de a vermos como inerrante e infalível. E também que não se trata
de um livro ditado por Deus, mas escrito por homens situados no tempo e no
espaço e cheio de condicionamentos histórico-social-psicológico-ideológico. Assim qualquer um que quiser tomar a bíblia
“ao pé da letra” ou se tornará cínico ou adoecido pela sua total incapacidade
de lidar com a totalidade dela vista como mandamento de Deus.
Não é a bíblia que é o fundamento da fé, milhares
de cristãos conhecem muito pouco dela e nem por isso se pode dizer de sua fé
como algo inferior a fé dos teólogos. A fé não precisa de base bíblica.
Portanto as escrituras são para nós um testemunho entre tantos do Evangelho
crido por muitos com e sem escritura.
Assim chegamos na afirmação de Jesus como
chave-hermenêutica. E o que isso significa? Significa que só deve ser aceito
como mandamento aquilo que for conforme o Espirito de Cristo que é Amor. E aqui
não se trata de jogar fora, como sem nenhum valor os textos bíblicos mas
entender que somente é possível saúde espiritual se o único dogma for o Amor e
este ser o juiz de cada texto e contexto.
Muitos afirmam que com isso apenas estamos
selecionando textos a nosso favor. Que idiotice! Primeiro porque não conheço
nenhuma teologia da bíblia toda, todos esquemas teológicos fazem escolhas de
textos, determinam importâncias e selecionam o que desejam. A diferença está na
autoridade. Uns tem na tradição agostiniana a chave, outros nos concílios
patrísticos, outros nas confissões reformadas, outros na autoridade de algum
teólogo ou sistema teológico, nós temos no Amor a autoridade final para a
interpretação das escrituras.
Quem leu os evangelhos e percebeu o espírito de
Cristo e tiver o mínimo de bom senso perceberá que esse espírito não está na totalidade
dos textos sagrados, por uma simples razão, nenhum autor foi privado de seu
próprio espírito na redação dos textos.
Outros perguntarão: - e a doutrina dos apóstolos? A
igreja não está fundamentada sobre ela? Bom, quanto a isso fica difícil saber
exatamente qual era a doutrina dos apóstolos, será a que o catolicismo
interpretou ou uma das diversas confissões protestantes? Eu particularmente sou
de uma igreja que está sob a pedra que é Cristo, que muitos apóstolos Nele creram
e dele deram testemunho, mas o mesmo Espírito que iluminou os apóstolos,
ilumina todos os homens.
Mas e o que sabemos de Cristo não veio das
Escrituras? Sim! Por isso mesmo ela é chamada de sagrada, mas o fato dela dar
testemunho de Cristo não a faz um livro que deve ser lido cegamente, como se
não houvesses elementos históricos que precisassem ser explicados para não se
tornar mandamento de morte entre nós. Ele dá testemunho, mas é o Espírito que
nos confirma no coração o que é lhe é próprio. Logo o que não carrega o
testemunho do Espírito que é Amor, pode ser bíblico mas não deve ser mandamento
entre nós.
Quem diz que para crer em Jesus é preciso crer sem
críticas nos textos bíblicos não crer no poder do Espirito e ainda é um ingênuo
literário. Só um tolo acredita que se não tivemos a totalidade das escrituras
como inerrante não poderemos saber de nada sobre o Verbo Encarnado. Não só
tolo, mas também incrédulo, visto que não possui fé mas lógicas sistemáticas.
"O
convite é olharmos para Jesus, sim o do texto bíblico e lá perceber como Ele
tratou a vida, as pessoas, a religião, os políticos, os pobres, os ricos, os
doentes, os parias, os segregados, os esquecidos, os seres proibidos, os
publicanos, as meretrizes, os santarrões, e o que mais você quiser, pois se
cremos que Nele habita
corporalmente toda a plenitude da divindade, e Nele estão TODOS os tesouros da
sabedoria e do conhecimento, então de seu modo de ser teremos a chave para a
interpretação de todo e qualquer texto ou espírito."
Para
nós o que passar disso pode até servir para um bate-papo mas não se traduz como
Evangelho!
Ivo Fernandes
4 de junho de 2014
Comentários
http://eric-cunha.blogspot.com.br/2014/01/jesus-chave-hermeneutica-das-escrituras.html
Abs
17. para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra.