A igreja de Jesus
Leitura: Mt 18
Uma das questões que
já está muito clara para qualquer mente sensata é que Jesus de Nazaré não fundou nenhuma religião. O cristianismo é produto posterior que guardou muita
coisa de sua mensagem, bem como a perverteu bastante. Porém seria ingenuidade
dizer que Jesus não deu inicio a nenhum movimento. Seus passos inauguraram um
caminho, até hoje seguido por milhares.
Entre a religião
cristã e o movimento cristão está o conceito de igreja. Ambos, a religião e o
movimento, utilizam esse termo. Assim, a pergunta é: Jesus fundou uma igreja?
Se sim! O que era ou como era a igreja de Jesus?
A palavra igreja é a
tradução para o termo grego ‘ekklesia’ e significa assembléia. Também pode-se
pensar num significado de chamados, convocados e separados. Assim podemos dizer
que há dois modelos básicos de igreja. Há os chamados para fora de um
sistema e os chamados para dentro.
Analisando o termo conforme aparece nos
registros dos Evangelhos e conectando com o todo da mensagem de Jesus, podemos afirmar que Igreja, de acordo com
Jesus, é comunhão de dois ou três em Seu Nome e em qualquer lugar, e podem ser
quaisquer dois ou três e não apenas um certo tipo de dois ou três.
E quando ele diz “no meu nome”
refere-se “conforme seu espírito”. Não se trata de uma comunidade fixa e
fechada, como também não há nesse ajuntamento proposto qualquer ideia de reclusão
comunitária. Igrejas-denominacionais presas em códigos teológicos, morais e
litúrgicos nunca foi uma proposta de Jesus.
O ajuntamento proposto por Jesus tinha
um objetivo fundamental: ensinar, e como exemplo para o modelo, ele falou de espalhar
sementes, salgar, levar amor, caminhar em bondade, e a sobreviver com dignidade
no caminho, com todos os seus perigos e possibilidade (Lc 10).
Nesse ajuntamento não há espaço para
qualquer hierarquia entre os envolvidos. E fica claro que somente esses
envolvidos foram chamados a responsabilidade do ensino à medida que disseram
sim a proposta, pois aos que apenas ouviam sempre foi lhes dado a liberdade de
ir e vir à vontade. Não era da vontade de Jesus aglomeração de grandes massas,
pois seu objetivo não era tirar ninguém do mundo, da vida, da sociedade, da
terra, mas a transformação por meio da fé no Evangelho.
A igreja de Jesus não é um clube, uma
agremiação doutrinária, mas um movimento caminhante em que os discípulos são apenas
homens que ganharam o entendimento do Reino e vivem como seus cidadãos, não
numa ‘comunidade paralela’, mas no mundo real.
“O ajuntamento dos discípulos é apenas uma estação do caminho, não o seu
projeto; é um oásis, não o objetivo da jornada; é um tempo, não é o tempo todo;
é uma ajuda, não é a vida.”
“A verdadeira igreja não tem sócios, tem apenas gente boa de Deus e que
se reúne e ajuda a manter a tudo aquilo que promove a Palavra na Terra.”
O contrário da igreja de Jesus são as
igrejas que usam o nome de Jesus mas promovem toda espécie de doença pra alma
em razão de seus confinamentos morais e ideológicos
O que quero sendo mentor de uma estação
do Caminho da Graça é levar as pessoas a esse entendimento e a essa maturidade,
e não tenho intenção em produzir um ambiente fechado de ‘verdades’ indiscutíveis
e de falsos moralismos. Dando liberdade a todos de irem e virem quando
quiserem, respeitando sempre a vontade de cada um.
Sabendo disso todos podemos fazer uma escolha
entre uma ‘comunidade’ que existe em
função de si mesma, e para dentro; ou entre um ‘caminho de discípulos’, e que
se encontram, mas que não fazem do encontro a razão de ser da vida.
Desejo que nossos encontros nos ajude a
sermos pessoas mais humanas, descomplicadas e sadias.
E se há ainda
alguma dúvida de como é a igreja de Jesus é simples, seu principal sinal é a
manifestação da multiforme Graça de Deus — na forma de amor, perdão,
reconciliação, justiça e bondade procedentes da verdade que atua em amor. Pois
na igreja de Jesus não há auditores, há amigos. Nela toda angustia humana
é tratada em sigilo e paz. O que passar disso não é uma assembleia de Cristo,
mesmo que use o seu nome em suas placas!
Ivo Fernandes
22 de agosto de 2014
(As citações em itálico são
de Caio Fábio)
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