Vida e morte no ensino do Nazareno
Leitura: Mateus 22
No período em
que Jesus viveu, aquilo que chamamos de judaísmo era marcado por diversos
grupos diferentes e até rivais tanto nas questões políticas quanto teológicas,
por isso é improprio falarmos de um
pensamento judaico, sendo correto falar dos
pensamentos judaicos.
Quando buscamos
o que Jesus ensina temos um trabalho árduo e muitas vezes impossível pela
frente, pois os escritos possuem muitas fontes, e sabendo da diversidade de
pensamentos presentes na época, sabemos das possíveis diversas interpretações
que as pessoas e as comunidades tiveram do ensino dele.
Assim só é
possível falarmos do ensino de Jesus sempre com cautela e criticidade, se
valendo das melhores análises exegéticas, hermenêuticas, históricas, e claro
para os que creem da chave hermenêutica do amor.
Quanto ao tema
vida e morte, sabemos que desde o período do exílio na Babilônia que o povo
judaico sofreu bastante a influência do Zoroastrismo, religião persa, e
posteriormente do sincretismo grego. Portanto a nova religião judaica possuía
vários elementos que não estavam presentes em sua primitividade.
Muitas correntes
acreditavam na vida após a morte, numa luta cósmica entre o bem e mal, no fim
do mundo, na ressurreição dos mortos, no juízo e no paraíso.
Quais foram as
influências de Jesus é impossível sabermos a não ser por aproximação de temas.
Porém como o ensino do Nazareno tinha uma temática extremamente ligada a vida
enquanto existência, crenças metafisicas, transcendentais são mais difíceis de
definir em seu ensino.
É justamente o
caso da vida após a morte. Para mim fica claro, a crença dele nisso, porém não
me parece que sua preocupação era ensinar tal doutrina, mas falar de vida e
morte como potência e fim da mesma. Ou seja até nesse tema, o ensino do
Nazareno se aproxima da existência, daquilo que nos diz respeito aqui e agora. No
texto sugerido a primeira parábola trata-se de um convite do Rei para as bodas
do Filho, e não encontro na mesma nenhuma referência para pensarmos em algo
além túmulo, antes Jesus mesmo diz trata-se de uma parábola sobre o Reino, e
para ele o Reino não era uma vida além mas um modo de viver. Assim o convite
trata de uma escolha que devemos fazer aqui e agora. Depois vem a questão do
tributo a César que já expliquei num texto anterior, e de novo a questão é de
Reino, o Reino de Deus não deve nada a César e o de César não tem nada de Deus,
assim cabe a cada um uma escolha.
Aí sim chega a
questão da ressurreição. Os interlocutores trazem a questão e o texto nos
afirma que não acreditavam na mesma, logo a questão parecia ser para zombar de
uma possível crença de Jesus. Apontam para o que consideram ridículo numa
crença de vida após a morte. Jesus então responde que o primeiro problema do
comportamento dos seus interlocutores era a ignorância.
São os
ignorantes que zombam do que não sabem. Que menosprezam o que não entendem, e
que interpretam de maneira infantil e estúpida metáforas sobre a realidade.
Jesus ensina que
a vida após a morte não é uma continuação da existência sob o domínio das
baixas paixões, dos egoísmos ou das necessidades. Aqui ele se diferencia
completamente da visão comum que esperavam continuar a existir para sempre.
Aponta que ressurreição tem a ver com eternidade e não com continuidade. E que
portanto Deus não seria Deus de mortos que voltariam a vida, mas de vivos que a
morte não mata.
Assim ouso
afirmar que para Jesus o mais importante não se tratava do retorno de um corpo,
ou da continuidade pós morte, mas da vida e da dinâmica da mesma. Pois para Ele
viver era possuir o próprio Deus, ser cidadão do Reino, onde a própria a morte
havia sido significada com a Vida.
Vida e morte
portanto no ensino de Jesus trata-se de condições do espírito, e não
necessariamente de realidades metafisicas. Por isso que logo diz que tudo se
resume no Amor, pois Nele a morte e a vida são a mesma coisa, visto ser o mesmo
Eterno.
Por isso ele
mesmo se coloca no final texto como superior a Davi, que já havia morrido,
dizendo-se Senhor deste, pois ele o Filho era alguém que possuía a Vida e a
morte jamais a tragaria.
O convite dele é
para o seguirmos e deixar os mortos sepultar os seus mortos (Mateus 8:22). É para seguirmos sem mesmo dos matam o corpo mas não podem matar a alma
(Mateus 10:28). Sabendo que aqueles que creem na Vida, nunca morrem ainda que estejam
mortos (João 11;25)
E você está
Vivo?
Ivo Fernandes
29 de outubro de 2014
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