Da eternidade da mente ou da salvação da alma
A
primeira coisa a ser dita diante desse tema é que não se pode falar de salvação
se essa revela-se como negação da vida ou do mundo. Toda salvação além-mundo
não é salvação da alma, pois só podemos avançar na reflexão sobre o assunto se
não negarmos o sentido de existir. Salvação é, pois, sempre uma salvação da
vida na vida, da alma na existência e para além dela. O contrário disso é má
religião.
Só
conseguimos alcançar a reflexão sobre a eternidade da mente pela fé, pois
escapa aos meros sentidos, e da razão por mais sofisticada que essa seja. Pois
tal saber só é produzido pelo mais potente afeto. Por isso os salvos já
passaram da morte para a vida frente a força desse afeto.
Para
entendermos melhor esse tema é importante diferenciar imortalidade de eternidade.
A ideia de imortalidade, está ligada à duração, portanto só é entendida no
tempo. Trata-se do desejo do ser em persistir na existência. Mas a eternidade
não é uma duração pois não é regida pelo tempo. Logo o que é eterno é
atemporal.
Assim
podemos dizer com toda certeza que Deus é eterno, pois não sendo preso, nem
filho do tempo, é a causa de todas as coisas, inclusive do próprio tempo. Logo
só aquilo que não se submeteu aos modos, mas antes os formou pode ser, quando
na existência as coisas chegarem ao fim. O homem é finito pois é existente,
logo como a existência se extinguirá em si mesmo, no entanto o mesmo homem é
espirito divino, e tal espirito não se extingue pois da existência não
dependeu, antes a significou. O espírito divino no homem é eterno.
O
que parece ser então a questão é se nesse espirito algo de minha identidade
pessoal construída na existência sob a força do tempo e do espaço, permanece
ligada a esse espírito. Ora o que se pode saber é que tal espírito se satisfaz
plenamente na aliança com Deus. E na aliança do espirito humano com o Espirito
Eterno que está a felicidade. Assim a consciência que já alcançou essa saber
por meio da fé, não busca a imortalidade de qualquer parte sua especifica, mas
apenas a união com Deus. Quem não ama a eternidade por causa da possível não
continuidade da identidade, não foi afetado pela eternidade.
A
morte não mata o espírito. E o espírito está para o ser conectado com o
terceiro gênero de conhecimento, a fé. Todas ideias adequadas oriundas desse
conhecimento são ideias ligada ao espírito, logo, permanece aquilo que é. Assim
não teme a morte quem sabe da eternidade do espírito. Assim não é a memória que
é própria da existência que persiste, mas o espírito e as ideias adequadas.
Salvação
nada mais é do que um renascer para a eternidade dentro da existência.
Ivo Fernandes
22 de junho de 06
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