A presença da Ausência
Leituras: Salmo 42; 1 Jo 4
O que é mais assombroso na fé cristã é que seu Deus
é abscôndito. Apesar de nossa poesia trazê-lo para tão perto, onde realmente
ele está? Talvez essa seja a pergunta mais doída, honesta e angustiante que
fazem os homens de fé. Talvez por isso o Homem por excelência não ficou isento
de fazê-la.
Aprendemos a responder a essa pergunta desde
crianças em canções como “Deus está no céu”, no nosso modelo de oração
“...estás nos céus”. Nesse lugar distante aprendemos a esperar Ele e Dele
alguma coisa como um servo espera do seu Senhor.
Depois aprendemos a responder que ele está aqui,
tornou-se o Deus presente por meio da encarnação. O que estava em cima agora
está em baixo. O que estava no céu agora está na terra.
Com a sofisticação de nossa teologia dissemos que
Ele não está aqui nem ali, e explicamos isso por meio de uma delicada relação
entre os conceitos de transcendência e imanência. Assim, Deus passou a ser
conceito.
No entanto a verdade dita por João é maior que
nossas respostas – Ninguém jamais viu a Deus. Paulo disse – Ele habita em luz
inacessível. E eu digo – Ele é o Ausente!
A questão é por que? Eu só encontro uma resposta –
Porque Ele nos ama! E talvez me perguntem, mas como a ausência pode ser sinal
de amor? Se Deus fosse presente nós não seríamos! A nossa liberdade,
existência, fé, razão e tudo que nos torna humanos é garantido pela ausência de
Deus. E esse é o projeto de Deus - que sejamos! E a melhor das semelhanças é
nossa própria relação com nossos filhos. Nenhum pai que deseje que seus filhos
se tornem adultos sadios ficará presente o tempo todo, pois sabe que isso
impediria o desenvolvimento do filho. Por amor é necessário é ausência.
O que é um homem de fé? Os que veem sarça ardendo,
colunas de fogo, mares se abrindo, rochas que servem água, exércitos vencidos,
agua virar vinho, pescas milagrosas, ressurreição de mortos? Não. Um homem de
fé, não anda por vista, já nos ensinou Paulo. Quem crer não precisa ver. O
Ausente é plenamente presente no coração dos verdadeiros crentes. Pois o
Ausente não é o indiferente, nem o distante, nem o frio, é o que ama.
Eu nunca vi a Deus mas sei que Ele vive em mim e
sua Ausência está em todos os lugares garantindo minha liberdade.
O Ausente que ama está revelado no Amor. “Ninguém
jamais viu a Deus” – disse o apóstolo João. Contudo, concluiu dizendo que, “se
amamos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor está aperfeiçoado em
nós” (1Jo 4.12).
Assim concluo: O Deus transcendente, imanente, transparente,
é também o Deus ausente, e assim é tudo em todos, por todos e por meio de todos.
Leiam!
Ivo Fernandes
15 de
janeiro de 16
Comentários