O bem e mal no ensino de Jesus
Leitura Inicial Recomendada:
“Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia
de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal” Mateus 6:34
“E não nos conduzas à tentação; mas livra-nos do mal; porque
teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém.” Mateus 6:13
O Século XX é considerado um dos séculos mais
sangrentos da história da humanidade. Somente na segunda guerra mundial cerca
de 60 milhões de pessoas morreram, incluindo cerca de 20 milhões de soldados e
40 milhões de civis. 5,6 a 6.1 milhões de judeus foram executados ou mortos
como prisioneiros de guerra nos campos de concentração.
Também no século XX que presenciamos o genocídio
brutal dos Tutsis em Ruanda. Mais de 500.000 pessoas foram massacradas. Quase
todas as mulheres foram estupradas. Muitos dos 5.000 meninos nascidos dessas
violações foram assassinados. No mesmo continente africano, de 1948 a 1994, a
África do Sul viveu sob o regime de segregação racial, conhecido como
Apartheid, onde uma minoria branca e cristã sobrepujou os direitos de cidadania
e a liberdade de uma maioria negra, promovendo um dos fenômenos sociais mais
violentos vistos no século XX.
Tudo isso nos leva a pensar a questão do mal, o
que já fizemos em outras oportunidades que podem ser vistos aqui:
A
questão do mal sempre ocupou um lugar de grande destaque na teologia e na
filosofia, trata-se de um tema complexo.
No
campo filosófico, Epicuro (341 a.C., Samos — 271 ou 270 a.C., Atenas) já alertava
para o grande dilema:
“Ou
Deus quer tirar o mal do mundo, mas não pode; ou pode, mas não quer tirá-lo; ou
não pode nem quer; ou pode e quer. Se quer e não pode, é impotente; se pode e
não quer, não nos ama; senão quer nem pode, não é o Deus bom, e, além do mais,
é impotente; se pode e quer – e esta é a única alternativa que, como Deus, lhe
diz respeito – de onde vem, então, o mal real e por que não o elimina de uma
vez por todas?”
No
campo teológico essa questão ganha sua resposta primeiramente com Santo
Agostinho na sua formulação da doutrina do pecado original. Assim ele
retira de Deus a culpa pelo mal. Deus não pode ser considerado responsável pelo
mal, nem por sua origem, nem por sua conservação, a não ser por “permissão”
para proteger a liberdade humana.
O
fato é que o mal existe, se podemos discutir a realidade do mal metafísico não
podemos negar o mal físico e moral, ou seja o mal é um problema humano que nos
afeta a todos. Somos seres finitos e a finitude implica imperfeição, e o que
sofre de imperfeição é passível do mal, pois está em processo de construção.
Porém a finitude não é o mal. É tão somente sua condição de possibilidade:
condição que torna inevitável sua aparição. E por que, então, Deus criaria um
mundo onde a possibilidade do mal seria inevitável? Se Deus cria, não pode
criar-se a si próprio: tem de criar um mundo finito. Mas, se o mundo é finito,
comporta necessariamente o mal.
E
como Jesus vê essa questão?
Não
há nos relatos dos evangelhos nenhuma teologia ou filosofia sistemática proposta
por Cristo. Ou seja, ele não se detém na explicação do mal, apenas assume sua realidade
e a partir daí desenvolve uma práxis pregando aos que sofrem, socorrendo os feridos
e consolando os pobres e marginalizados. A sua mensagem tinha como ponto
fundamental uma nova imagem de Deus, o Abbá. Não explicou o mal, mas o
experimentou e o combateu. E estimula a fé em Deus apesar do mal. Não se trata
de uma questão de onipotência ou soberania, e sim de amor. Ter fé no amor de
Deus. Essa nova perspectiva faz toda a diferença: crer que Deus cria por amor e
que por isso toda a sua força está sendo aplicada em ajudar na luta contra o
mal, contra tudo aquilo que fere, oprime e distorce.
Com
isso Jesus nos ensina não sobre origem do mal, mas como combate-lo. Nos leva
assumir uma postura que contrarie as estruturas sociais dominadas pela maldade,
todas as formas de opressão e descaso para com o humano.
O
que sei é que o mal é ambíguo, portanto, não cabem rotulações e simplificações,
sejam elas, religiosas, filosóficas ou políticas. Por outro lado, gastar tempo nas
explicações do mal não irá nos ajudar. É preciso seguir as orientações
apostólicas que compreenderam o espírito de Cristo ao nos aconselhar o que
segue:
Vede que ninguém dê a outrem mal por mal, mas segui sempre o
bem, tanto uns para com os outros, como para com todos. 1 Tessalonicenses 5:15
Amado, não sigas o mal, mas o bem. Quem faz o bem é de Deus;
mas quem faz o mal não tem visto a Deus. 3 João 1:11
Porque melhor é que padeçais fazendo bem (se a vontade de
Deus assim o quer), do que fazendo mal. 1 Pedro 3:17
Não tornando mal por mal, ou injúria por injúria; antes, pelo
contrário, bendizendo; sabendo que para isto fostes chamados, para que por
herança alcanceis a bênção.1 Pedro 3:9
Ivo Fernandes
11 de outubro de 2016
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