O tédio nosso de cada dia
Uma geração vai, e outra geração
vem; mas a terra para sempre permanece. Nasce o sol, e o sol se põe, e
apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu. O vento vai para o sul, e faz o
seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo os
seus circuitos. Todos os rios vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao
lugar para onde os rios vão, para ali tornam eles a correr.
Eclesiastes 1:4-7
Eclesiastes 1:4-7
O livro de Eclesiastes nos
mostra a repetição constante de tudo, afinal não há nada de novo debaixo do
sol. Diante de um quadro desses como tornar a vida mais interessante? Para
vencer a monotonia e fugir da rotina muitos lotam suas agendas de atividades, e
outros ainda mergulham numa busca desenfreada por prazeres, mas não poucos
desistem de tudo e deixam a mesmice produzir um cenário de isolamento e tédio.
Os que mergulham na última
opção, não veem mais sentido nas ações diárias. Afinal para que trabalhar? Para
que encontros de fim de semana? Para que reuniões religiosas? Para que? Se tudo
é inútil, fadiga e cansaço.
Porém existe uma coisa comum
a quem se entregou ao tédio e a quem foge dele desesperadamente. Ambos não
pensam. Não usam a mente a fim de compreender a vida como ela é e assim retirar
dela o melhor possível. O famoso sentido da vida, precisa ser atualizado na
existência por cada indivíduo.
Sim! Cada indivíduo reinicia
a história do zero, por mais que ela seja a mesma. Já percebeu como os exemplos
anteriores pouco servem para nos impedir de fazer alguma coisa? E por que isso
acontece? Por que não vivemos a vida a partir de ninguém. Repetiremos tudo mais
uma vez. Mas observe a grandeza disso, tudo é o mesmo, mas individualmente é
sempre novo. Minhas filhas não repetiram a minha vida, mesmo que não façam
muita coisa diferente, elas estarão vivendo a vida delas e não a minha. É
repetição, mas é novidade. A vida é sempre a mesma, mas para cada um de nós
pode ser completamente diferente.
Assim, o primeiro conselho
para se enfrentar o tédio de cada dia e tornar a vida mais interessante é: Observar
a singularidade, inventar a vida a partir de si mesmo. Não se deixe levar pelas
generalizações, nada mais tediante que isso. Lide com singularidades e não com
universais. Abandone frases, como “todo homem/mulher é igual” e aventure-se a
conhecer alguém; “é sempre a mesma coisa” e aventure-se em fazer coisas que não
fez.
Tenho aprendido a sentir a
vida. Gosto de ver o mar, molhar meus pés em suas ondas. Gosto do vento no
rosto quando ando de bicicleta. Gosto da chuva. E de tantas coisas. Qual a
novidade delas? Aquela que dei.
Eu hoje, estou vivendo uma
outra fase da minha vida, aprendendo a ser velho. Talvez você diga, que isso e
um exagero da minha parte. Mas o fato, é que passei muito tempo da minha vida
atrás de uma tal juventude perdida, mas agora tem descoberto as alegrias das
responsabilidades, das escolhas racionais e maduras. Tenho me inventado
enquanto homem, enquanto velho, e tem sido uma experiência muito boa.
Um dos maiores problemas das
pessoas é que elas desejam fixar tempos e experiências, em vez de aproveitar
cada estação. Pensem nas pessoas que vivem casamentos infelizes simplesmente porque
ainda queriam o mesmo jovem que conheceram no início da história. A questão é
que tudo mudou. Não somente o parceiro, todos mudamos. E isso é bom, eis aí uma
novidade, ter que lhe dar com a mesma pessoa que agora é outra. A ideia não é
buscar novidades, novos amores, novos parceiros, é aproveitar o novo do mesmo,
que está a nossa frente. É como uma alimentação, todos os dias tomamos café,
almoçamos, jantamos, porém a cada refeição é sempre um sentir, e não precisamos
querer saciar toda a nossa fome numa só refeição, o mesmo voltará, porém, é
sempre novo.
Assim, concluo fazendo uma
paráfrase do próprio Eclesiastes:
Eclesiastes
2:24-26; 3:1; 4:9-16; 5:1-8; 7:14-22; 11:1-10; 12:1-14
Aplique-se a esquadrinhar o próprio coração. Busque a
sabedoria, apesar de doer é o único caminho possível para não ser vencido pelo
tédio. Depois detenha-se a gozar a vida, sabendo respeitar o tempo de cada
coisa, e valorizado as companhias desse processo, pois é sempre melhor serem
dois do que um, porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do
que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante. Também, se dois
dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só, como se aquentará? E, se alguém
prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; e o cordão de três dobras não se
quebra tão depressa.
Cuida da tua própria vida e não te precipites em julgar ou
falar da vida alheia. Lembre-se que você não é tão bom, pois não na verdade,
não há homem justo sobre a terra, que só faça o bem, e nunca peque. Prefere a
partilha do que o acúmulo, e partilha junto com os que ama, afastando a ira do
teu coração, e removendo da tua carne o mal.
Lembra-te também do teu Criador em todos os dias da tua vida.
De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus
mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem.
Ivo
Fernandes
12
de fevereiro de 17
Comentários