A comunhão para além dos muros sociais
Leitura:
Gálatas 3
“Nem
escravo, nem livre”
Desde a invenção da
propriedade privada e o consequente aparecimento das classes, que o mundo nunca
mais vivenciou um tempo de igualdade social. Teologicamente podemos também
atrelar isso ao pecado, uma vez que no mito edênico, depois da queda, os homens
passam a lutar pelo direito de posse, e as diferenças são inauguradas.
Na contemporaneidade isso é
fortíssimo, somos divididos pelo capital e seus subprodutos. Avaliamos e somos
avaliados pelas condições socioeconômicas. E tudo está atrelado a isso, de nossa
honra a nossa fé.
Porém, é claro no Evangelho
que em Jesus as barreiras sociais devem ser derrubadas. E com isso não estamos
falando de adotar algum regime político específico, como o socialismo por
exemplo, mesmo que possamos afirmar que existem regimes menos evangélicos que
outros. O Caminho de Jesus é um caminho de partilha, e isso não deve ser
confundindo com o comunismo político.
A derrubada dos muros
sociais não está, para o Evangelho, na tomada do Estado por uma classe, nem na
luta armada, na verdade ela não começa de cima, dos locais do macro poder. No
Evangelho essa mudança começa na base, partindo da consciência de cada
caminhante que Deus ama a justiça. Desde a revelação no AT que percebemos o
cuidado de Deus com os que não podem cuidar de si, ou que foram vítimas dos
esquemas injustos do mundo. No NT por todo o ministério de Jesus vemos a mesma
preocupação e a igreja primitiva também compreendeu essa missão.
Perceberam então a
diferença? Não é um movimento político coletivo, mas uma consciência e prática
individual, que evidentemente pode somar forças para produzir algo maior, que o
Evangelho promove. No Evangelho não há um louvor da condição do pobre e nem uma
demonização da condição social do rico. O que há é uma percepção de que os
cuidados aos pobres devem ser prioridade no reino e que os ricos são chamados a
responsabilidade nesse processo. O pobre exaltado é aquele que na sua condição
em vez de desesperançar mantém sua fé Naquele de quem tudo depende. E o rico
criticado é aquele que na sua condição, esquece dos bens espirituais e dos
serviços de caridade. Não é exatamente a condição financeira que é discutida,
mas a condição espiritual de cada um.
Há uma tensão entre uma abordagem da justiça social que é
centrada em Deus e da que é centrada no homem. A abordagem centrada no homem vê
o governo no papel de salvador, trazendo consigo uma utopia por meio de
políticas governamentais. A abordagem centrada no Evangelho vê Cristo como
Salvador, que restaurará todas as coisas e executará a justiça perfeita. Até
então, os cristãos expressam o amor e a justiça de Deus ao mostrar bondade e
misericórdia para com os menos afortunados, derrubando assim os muros sociais,
e estabelecendo uma comunhão entre servos e livres, ricos e pobres, de maneira
que não haja entre nós quem não tenha o que necessita para o bem.
Aconselho a leitura do livro de Tiago e a prática dos seus
conselhos!
Ivo Fernandes
21 de janeiro de 18
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