A COMUNHÃO COM A VERDADE
O filósofo Nietzsche trouxe a
seguinte questão: “Quanta verdade eu consigo suportar?
Para responder isso precisamos
compreender a Verdade, não a minha verdade, não a verdade de uma doutrina, mas
a Verdade enquanto a tal.
O que é a Verdade? É aquilo
que É e não pode não-ser. O que não pode nada contra. O que não depende do
olhar alheio e nem dos juízos individuais. É o que é e o que vem a ser, pois
nada lhe contraria e nem lhe destrói.
Ora, daí perguntamos: E a
Verdade existe? Sim! E nós a enxergamos no Cristo.
Cristo é chamado de "fiel
e verdadeiro" (Apc.19.11); Ele mesmo disse: "Eu sou a verdade"
(Jo 14.6). De acordo com Apocalipse 3.14, seu testemunho é fiel e verdadeiro
(cf. Jo 8.14); suas palavras são fiéis e verdadeiras (Apc. 19,9; 21,5; 22,6);
seus julgamentos e seus caminhos são justos e verdadeiros (Apc. 16,7; 19,2; cf
15,3; Jo 8,16). Nem em sua pessoa, nem em suas palavras, nem em sua ação - em
tudo o que ele era - havia absolutamente nada falso (1P 2.22).
O Deus que servimos "ama
a verdade no íntimo" (Sl 51.6; cf 26.2). E a Verdade não pode admitir o
engano. E aqui nós entramos.
Temos comunhão com Deus? Temos
comunhão com Cristo? Temos comunhão com a Verdade?
O salmista nos revela que um dos
requisitos para ver Deus é "andar em integridade, fazer justiça e falar a
verdade em seu coração" (Sl 15.2).
E aí a pergunta nos chega:
Amamos a Deus? Ou apenas buscamos recompensas?! Temos comunhão com Ele, ou
apenas o servimos por medo de ser punidos? Nosso desejo é Ele ou a glória do
título de sermos pessoas de fé?
Isso me lembra Kierkegaard, quando
diz "a eternidade não está à venda" (p.126 Temor e Tremor). O preço
da veracidade pura é o total e completo compromisso (capítulo 8).
Não há dúvida de que vivemos
uma crise da verdade. Ninguém acredita mais nos outros, em todos on níveis do
político ao pessoal. Sentimos que pode haver engano por todas as partes. A
igreja há muito perdeu sua credibilidade.
Mas mesmo diante de um quadro
de crise, ainda nós, os chamados cristãos temos dito que o Evangelho é a
Verdade. Mas SE O EVANGELHO É VERDADE, POR QUE ELE NÃO É REFERÊNCIA DAS SUAS
ESCOLHAS?
Para pensar na questão a poesia de Drummond pode
nos ajudar:
A
verdade em metades
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil.
E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso onde a verdade
esplendia seus fogos.
Era dividida em metades diferentes uma da
outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas eram totalmente bela.
E carecia optar.
Cada um optou conforme seu capricho, sua
ilusão, sua miopia.
O que a poesia nos revela
sobre nós e nossa relação com a Verdade?
Não é possível chegar a
Verdade enquanto tivermos discutindo nossas verdades. Não há Verdade sem
Comunhão. Sem a verdade do outro a minha não passa de uma ilusão. A Verdade a
gente descobre no Amor. Por isso mesmo que Jesus enquanto pessoa disse ser a
Verdade, para nos mostrar que com a Verdade temos uma relação e não somente um
entendimento. Qualquer um que tiver disputando a verdade em detrimento da
relação é um mentiroso, conforme 1 Jo 2.
A Verdade não está livros, em
doutrinas ou ideias, ela está pulsando dentro do próximo. Enquanto não nos
envolvermos com esse próximo seremos feitos de meias-verdades e meias-verdades
é ilusão.
O que você prefere ideias ou
relações? Conceitos ou pessoas?
Voltando a pergunta inicial,
quanto de verdade eu posso suportar? Posso suportar o outro?
Posso amar a Deus?
Uma resposta responde todas, pois não se ama a Deus se não se ama o próximo, e
só se conhece a Verdade na Comunhão.
Ivo
Fernandes
6
de maio de 2018
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