Para que todos saibam
Com oito anos de idade ouvia de
vários profetas evangélicos que Deus havia me escolhido para uma grande obra,
em virtude disso, não pude viver como uma criança normal, assim, desde cedo fui
sendo preparado para tal missão. Com 12 anos estava no púlpito, com 15 pregando
em vários lugares, com 18 assumindo a liderança de uma igreja evangélica.
Porém sempre tive dificuldade em
comunicar aquilo que era ensinado a comunicar. Jamais me interessei pelos temas
comuns que atraiam tanto as pessoas. Desde a adolescência me preocupava mais
com o estado emocional dos jovens que liderava, em virtude de suas experiências
sexuais, do que saber se elas eram ou não pecado.
Tentando encontrar uma ideologia
que minha consciência aceitasse, estudei tudo que podia, a doutrina dos pais da
igreja orientais e ocidentais, a doutrina católica medieval, a escolástica, os
pensadores protestantes, reformados, radicais, liberais, ortodoxos,
fundamentalistas, neo-ortodoxo, pós-liberais e contemporâneos. Porém não me
encaixava plenamente em quase nada.
Toda essa busca me levou a
perceber que eu não precisava encontrar tal ideologia, afinal toda ideologia é
verdade e mentira, simplesmente porque todas são humanas, muitas vezes
semelhantes em seus anseios e propósitos, e completamente iguais em suas fragilidades.
Com isso em mente entendi que não
tinha a Verdade, mas uma verdade, a minha verdade, não era absoluta, era
relativa a mim e a toda a minha caminhada. E da mesma forma entendi que todos
os seres humanos estão nesta senda vivendo processos semelhantes.
Esse entendimento me libertou de
vez da obrigação que queriam me impor de converter pessoas a determinadas
ideologias, o que nunca me alegrou. Porém continuo comunicando a minha fé, e
creio que todos têm o direito de saber se quiserem, afinal sei que sou
resultado da reflexão que fiz a partir de tudo que vi, ouvi e li.
Sem proselitismo desejo que todos
saibam aquilo que me faz bem, que me acalma o coração, que me alegra o viver e
acima de tudo que me faz viver de maneira pacificada.
Desejo que todos saibam que creio
que existe um Deus, mas que esse ‘um’ não é um número ou condição de ser de
Deus, pois Nele pode habitar uma comunidade. Que esse Deus é Amor ou Graça visto que o
Amor-Graça é a Força que gera, que cria sem a necessidade de criar. E que toda
a Sua criação mesmo sendo criada do Nada, é Nele que é e vai sendo, pois fora
Dele simplesmente nada pode ser.
Desejo que todos saibam que creio
que a criação tem um propósito, um sentido, uma meta, uma direção, um caminho
que dá no próprio Deus, que para isso o Senhor abriu um espaço em Si mesmo,
para que a criação pudesse ser livre, em outras palavras Deus morreu, para que
a criação pudesse vir-a-ser em liberdade, pois fora da liberdade não há
evolução e caminho nenhum a ser feito.
Desejo que todos saibam que creio
que toda história humana carrega o princípio dessa revelação, mas por causa da
liberdade têm-se também a possibilidade da transgressão, e pela transgressão o
homem corrompe seu caminho natural, desviando-se da Vida. Porém, Deus, em sua
suprema Graça e soberania, matou o poder da morte – conseqüência da
transgressão, quando semeou a história com seu próprio sangue, fazendo nascer
no solo do paradoxo humano a árvore da vida, cuja folhas são para a cura de
todos os povos.
Desejo que todos saibam que creio
que Jesus Cristo é revelação dessa verdade feita história, carne e sangue, e
que, portanto podemos dizer que é Ele é Palavra Encarnada, onde Graça e
Misericórdia se manifestam em palavras e gestos. Ele é um Caminho que todos
podemos trilhar a fim de conhecermos a Verdade e experimentemos a Vida. Caminho
não feito de doutrinas, nem sistematizado por lógicas humanas, nem dominado por
qualquer grupo. Um caminho existencial que só a alma pode tomar por meio da fé,
que não é nenhuma força mágica, mas uma disposição interior de se lançar
plenamente naquilo que a mente não sabe, mas que, porém não consegue negar.
Toda a vida de Jesus é
manifestação da Verdade sendo impossível separar seus ensinos de suas ações, ou
separar sua pessoa de suas palavras. Daí se dizer que Ele é a Verdade. Ele nos
ensinou sobre a realidade final, que chamou de Reino de Deus. Revelou como
participamos disso pela via da negação do ‘si - mesmo’, e da afirmação do Eu na
relação com o Tu, único lugar onde Deus se manifesta. Por isso mesmo, Ele que
foi um Eu pleno doado para todos é habitação plena de Deus, encarnação do
Eterno, Deus-Homem, a quem chamamos de Senhor e de Primogênito entre muitos
irmãos.
Com sua morte nos deu o exemplo
maior de doação, fazendo de sua cruz histórica revelação da cruz eterna onde o
próprio Deus morreu por todos. E com sua ressurreição nos mostrou que o fim da
história é plenitude, mas que por meio da pregação do Evangelho – a boa-nova do
Amor de Deus – nos tornamos semeadores desta Realidade Final, trazendo o que
será, para Hoje, pois quando se crer e se mergulha – se é batizado - nesse entendimento, o que será É; passa-se da
morte para a vida, transportar-se do reino das trevas para o Reino de Amor,
ainda que esteja morto viverá, e do seu ser jorram fontes de águas vivas.
Desejo que todos saibam, por que
esse Evangelho na vida de todas as pessoas que nele creram tornou-se poder para
a salvação, ou seja, tornou-se poder para a libertação da escravidão do ciclo
infernal da culpa-penitência, fazendo o ser em liberdade prosseguir para ser o
que é Naquele e para Aquele que o criou para este propósito.
Como não comunicar tão grande
salvação?!
Ivo Fernandes
28 de julho de 2010
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