O caminho da espiritualidade e as formas de hospitalidade
O movimento que leva da
hostilidade à hospitalidade é um movimento que determina nosso relacionamento
com as pessoas. Provavelmente nunca nos livraremos de todas as nossas
hostilidades; às vezes o melhor a fazer numa relação em hostilidade seja
manter-se a distância, para que o tempo nos ajude no processo de cura.
Mas no caminho da espiritualidade
precisamos desenvolver a hospitalidade, e dois lugares especiais podem nos
ajudar nisso, a família e a comunidade religiosa. Na família, em especial a
relação entre pais e filhos, pois estes últimos não são propriedades daqueles.
Nossos filhos são nossos mais importantes hóspedes, entram, ficam um tempo e
depois vão embora. Nesse tempo em que ficam, é preciso que venhamos a
conhecê-los, e assim amá-los até o ponto de termos um relacionamento verdadeiro
com eles. Para isso é preciso que os pais permitam o afastamento dos filhos.
Libertá-los dos nossos desejos, pois é preciso lembrar que eles são apenas
hóspedes que têm seus próprios destinos que não conhecemos e nem ditamos.
A comunidade religiosa também
pode nos ajudar a desenvolver a hospitalidade, pois nela o ensino e a cura são
presentes. Precisamos aprender a proporcionar um espaço sem medos, onde a
pessoa fica tranquila para se expor se desejar. Cada pessoa dentro de uma
comunidade religiosa que visa à hospitalidade tem algo a oferecer, assim é na
comunidade que precisaremos aprender a rejeitar a necessidade de impressionar e
controlar, e desenvolver a habilidade de estimularmo-nos ao bem.
A igreja não é uma instituição
forçando-nos a seguir suas regras; é uma comunidade de pessoas que nos convida
a saciar nossa fome e nossa sede em suas mesas. Ela é um espaço de cura, onde
todos sabem que podem curar e que precisam ser curados. Isso nos aproxima dos
estanhos que agora são próximos. É nesse espaço onde passamos a conhecer de
fato o outro. Onde podemos contar e ouvir histórias, sem isso gerar juízo
condenatório. É um lugar de recepção e confronto. Não estamos sendo
hospitaleiros quando deixamos os estranhos isolados. É preciso o encontro real
entre os dois, o que gera inevitavelmente confronto, e a partir daí em razão do
acolhimento o diálogo. Receptividade sem confronto leva a uma neutralidade
confortável que não serve a ninguém. Confronto sem receptividade leva a uma
agressividade opressiva que fere a todos.
Ivo Fernandes
01 de abril de 12
Comentários