O caminho da espiritualidade – o caminho do anfitrião
Não se pode pensar no movimento
que vai da hostilidade à hospitalidade sem uma constante conexão interna com o
movimento que leva do isolamento à solidão. Isolados não podemos ser
hospitaleiros, porque estamos impossibilitados de criar espaços livres.
É preciso que o anfitrião esteja
capaz de oferecer o espaço onde o hóspede pode ouvir sua própria voz interior,
mas para isso, ele mesmo precisa sentir-se em casa, em sua própria casa.
Sentir-se em casa faz parte do
primeiro movimento, do isolamento à solidão, e para oferecer o espaço adequado
ao hóspede é preciso que o anfitrião torne-se pobre. Quando deixamos de querer
que nossas necessidades sejam completamente preenchidas, podemos oferecer aos
outros esse espaço.
Só vemos o estranho como inimigo
quando temos algo a defender, quando estamos agarrados a propriedade privada,
seja nosso conhecimento, nossa fama, nosso dinheiro e bens. É preciso esvaziar
a mente, abrir mão das riquezas, das ideias, dos conceitos e opiniões que nos
colocam no lugar de completos. É preciso o reconhecimento que não sabemos. Por
exemplo, somente quando sabemos de nossa pobreza em relação ao conhecimento de
Deus é que somos abertos aos homens que possuem religiões diferentes da nossa.
Uma mente cheia de preconceitos,
preocupações, invejas, medos não é capaz de gerar espaço para o estranho.
Quando confundimos o nosso caminho com O Caminho destruímos a possibilidade do
movimento espiritual.
O verdadeiro caminho da
espiritualidade exige um árduo e doloroso processo de auto esvaziamento. Esse é
o ensino presente na doutrina da encarnação, onde o próprio Deus faz o
movimento da força para a fraqueza.
Ivo Fernandes
8 de abril de 2012
Comentários