A última semana de Jesus
Inegavelmente a última semana da
vida de Jesus é o interesse dos escritores Evangelistas, e de onde partem todas
as crenças contidas no novo testamento. Não existe uma história de Jesus,
existe uma história da morte de Jesus, nascimento e ressurreição são apêndices
necessários, mais não centrais.
Para a tradição cristã desde os
escritores neotestamentários a cruz estava no discurso de Jesus, e para ela ele
caminha na sua última semana, que começa com a entrada ‘triunfal’ em Jerusalém,
e usamos esse termo como ataque a tudo que pensamos como triunfo, afinal o que
havia de um triunfal numa multidão de pobres em torno de um homem sem nenhuma
glória sentando num jumento e com uma capa a servir de sela? Se aquele homem
era um rei, sem dúvida não se tratava de um reino conhecido.
Depois temos a Ceia onde
estranhamente o hospede de honra lava os pés de seus discípulos, ato
considerado degradante até para um escravo. Que tipo de sociedade é essa que
compõe a o reino deste rei estranho?
Nessa Ceia Jesus pede que
fizéssemos três coisas para lembrarmos-nos dele; batizássemos os outros, como
fora batizado por João, repartíssemos o pão numa refeição memorial e lavássemos
os pés uns dos outros. Estava claro que seu reino era um reino de serviço e
humildade.
Nessa mesma noite aparece a
figura do traidor e o que vemos? O rei amando quem o trairia. Mas a traição não
estaria apenas no beijo de quem o vendeu, mas também no sono de quem o deixou
só na sua hora de agonia, na covardia de quem não teve coragem de dizer que o
conhecia, no abandono geral quando foi preso. E das muitas traições vemos um
rei sofrido e angustiado. E o Getsêmani termina de maneira que nos é tão
familiar, com a história de uma oração não respondida. Um homem que se coloca na total dependência
de Deus, como fazia desde a sua tentação no deserto.
Então se segue a prisão e os
interrogatórios, sem nenhuma defesa, nem ele próprio se defende. Aqui vemos
como a bondade pode ser perigosa para as instituições humanas. E ali estava o
Messias menos provável de todos os tempos, e quando já não havia, mas nenhuma
condição de dar crédito a um rei ultrajado, ele confessa publicamente quem era
– o Cristo de Deus, e porque só agora quando nos era logicamente impossível
aceitar? Talvez porque esse reino não é fundado em lógicas racionais, mas no
paradoxo da fé.
E aí a crucificação. E durante
todo trajeto um homem com uma relação estranha com seu objeto de execução. E por
quê? A cruz não é um desvio no caminho, nem um obstáculo para o reino, nem
mesmo o caminho do reino, ela é o reino que vem.
Do seu lado dois ladrões que bem
demonstram como podemos reagir a um rei crucificado. Zombando de sua tolice ou
crendo no mistério do amor ali revelado e no reino ali manifesto.
A morte de Jesus destruiu a
possibilidade de ele ser um Messias, um rei para muita gente. Mas estranhamente
para outros começou o caminho da adoração de um Deus. O Deus da Cruz! O Deus
que escolheu o caminho da fraqueza!
Ivo Fernandes
28 de novembro de 2013
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