O planeta visitado
O nascimento de Jesus não
configura o centro da mensagem dos escritos do NT. Na verdade é provável que
alguns escritores nem tivessem informações sobre os fatos ocorridos. Apenas
Mateus e Lucas registram o nascimento em Belém, porém apesar disso, a história
do nascimento tornou-se para os que creem um dos momentos mais sublimes da
Revelação.
O relato não deseja ser a prova
incontestável de sua origem espiritual, pois o mesmo já era crido independente
da história. Nunca foi usado no NT nos embates apologéticos, do livro de João
por exemplo. Para a maioria dos cristãos primitivos é a vida pública de Jesus
que testemunha a seu favor.
Então o que aprendemos dessa
história marginal das escrituras? Penso que há uma poderosa mensagem contida na
ideia da encarnação, pois temos nela o oposto do esperado dos deuses nas
concepções mais tradicionais de divindades. Se aquele menino era divino e sobre
ele estava o destino da humanidade, que coisa arrebatadora é pensar que tal
destino repousou sobre a reação de dois camponeses, José e Maria, primeiros
crentes a aceitar Jesus.
Se Jesus veio para nos revelar
Deus, o que aprendo nesse primeiro natal? Aprendo que Deus revelado na
manjedoura é um Deus humilde, o Deus menino, ao contrário de grande como visto
pela maioria das religiões é Deus pequeno, talvez por isso o espetáculo de tal
nascimento só foi visto por serviçais analfabetos que vigiavam rebanhos
alheios, pastores visto pela sociedade da época como gente de segunda classe.
Dá pra entender porque esse menino futuramente seria conhecido como amigo de
pecadores, quando vemos quem fez sua primeira visita.
Aprendo que Deus é acessível.
Diferente dos deuses que por sua grandiosidade causavam espanto, medo, o Deus
da manjedoura não assusta. É um Deus fraco, uma família, em fuga, perseguida da
ira dos sistemas de morte e poder. Só um Deus assim pode de fato se importar
com pobres, famintos, frágeis, excluídos, não para se oferecer como aquele que
resolverá seus problemas e que todos devem temer, mas como para se juntar a
eles, caminhando na fraqueza e ensinando o poder da vida em meio às
contradições da existência.
O Natal pode não ser o tema mais
importante dos relatos bíblicos, mas coroou a história de maneira que hoje é
impossível pensar Jesus e seu Deus sem a manjedoura. Cruz e manjedoura são
partes de uma mesma coisa. Sobre esta pedra está a minha fé. O Deus que não
conhece fronteiras assumiu as limitações do espaço chocantes da pele de um
bebê, as restrições sinistras da mortalidade. O Deus de toda a Vida aprendendo
a respirar, andar, mover-se, existir.
Natal, o dia em que o pequeno
planeta foi visitado!
Ivo Fernandes
20 de dezembro de 2013
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