Afinal o que importa é ser feliz?!
Ser feliz uma das expressões mais
comuns, um dos desejos mais corriqueiros. Mas será que falamos todos a mesma
coisa quando falamos de felicidade. Afinal o que significa ser feliz?!
Na contemporaneidade é comum
associarmos felicidade a negação da dor e do sofrimento. Se é feliz quando não
se pode verificar nenhuma dor ou sofrimento, pensamento bem diferente de muitos
gregos antigos onde não podia se pensar em felicidade sem dor, pois é
justamente na dor que se revela o amor e amizade.
Hoje se tem uma obrigação de ser
feliz. Ser deprimido não é mais comercial como já foi em outras épocas. Todos
os nossos comerciais são marcados por extrema felicidade. Nada de problemas, é
um verdadeiro mundo encantado. Somos cercados de mídias que fazem recortes da
realidade e só importa mostrar a imagem perfeita, a foto ideal, o momento
sublime, a felicidade estampada.
Somos a geração dos remédios da
alegria. Analgésico e todo tipo de drogas de alivio da dor. Precisamos consumir
e ser consumidos pela felicidade. Assim que venham as festas, as academias, as
praias, os encontros noturnos, entre outros. Não há espaço para solidões.
Bom, se os gregos estiverem
certos sobre o amor e amizade, na geração dos super-felizes não há espaço para
eles, apenas para coleguismos, companheiros de noitadas.
E é interessante notar como
esse conceito de felicidade está associada ao fim das esperanças eternas. Não
havendo mais eternidade, resta-nos apenas ser feliz aqui e agora e então
passamos a buscar desenfreadamente sermos felizes.
Ora,
e o que é felicidade do ponto de vista do Evangelho? Bom! O Evangelho nunca
negou a dor do mundo, ao contrário a afirma como própria da existência, e
também não se preocupa em construir uma explicação formidável sobre o problema
da dor. Ela simplesmente existe, faz parte da nossa natureza existencial. Portanto não há nenhum convite de evasão da
realidade, pois, é a Verdade no Caminho da Vida o poder que liberta.
Logo no Evangelho não há
felicidade quando se nega a realidade da dor. Felicidade não é fantasia. Nenhum
milagre de Jesus fez a existência mudar, os que foram curados podiam voltar a
adoecer e que foram ressurretos morreriam novamente.
Felizes então serão aqueles que
choram pois se livram de tornarem-se indiferentes, prepotentes e cínicos. Só os
que choram podem amparar outros que choram. Chorar é próprio dos humildes, dos
que precisam, dos que tem fome e sede de justiça. A misericórdia acompanha os
que choram, pois ao chorar vencemos a inflexibilidade, e temos a chance de
tratar do nosso coração. O fruto das lágrimas é paz. Preferimos o choro à
guerra; o choro à agressão, ao revide; o choro à perseguição e a vingança.
Porém os que choram também
devem e podem rir, pois a vida é cercada de beleza. Somos convidados aos
casamentos da existência. Então no ensinos de Jesus a realidade é assumida, com
suas lágrimas e seus sorrisos. Chora-se na hora da dor, rir-se na hora da alegria.
Em
Jesus nada é objeto de fuga, mas de toque transformador. Ele não busca o
confronto, mas nunca foge dele. Ele abomina o narcisismo e o engano da luxuria
embriagante, embora isso, para Ele, nada tivesse a ver com fato de rir, dançar,
gargalhar, e ser bem-humorado, como bem humoradas são muitas de Suas falas e
imagens, por vezes irônicas e até sarcásticas.
Jesus
é a pedra de tropeço para todos e é um golpe mortal no narcisismo de todos os
humanos; pois, não se priva de nada e nem de ninguém; não foge da dor, antes
vive para curá-la; celebra tanto a festa quanto a morte de um amigo com
intensidades próprias; enquanto mandava tomar a cruz e segui-Lo, embora, no
caminho com Ele, até a hora da cruz, todo andar foi na direção do que era vivo
e humano; e feliz por apenas ser.
Logo ser feliz não é meta, pois
seria como negar a existência. O que importa é viver, tudo que se há pra viver.
O que importa é ser inteiro, ser quem se é. E nada de paranoia atrás de
explicações sobre a obviedade da existência. Não busque culpados para sua dor
nem fontes para sua alegria, tudo é da vida e tudo está você.
Assim eu desejo deixar de usar
essa expressão “o que importa é ser feliz” para usar “o que importa é ser
contente com a vida”. Sim! Contentamento que não depende da busca desenfreada
para se obter alguma coisa, que não inveja o que outros possuem. A capacidade
de alegrar-se com vida do jeito que ela é. Só os contentes são cheios de paz pois
não vive de lembranças nem de expectativas.
O
contente sabe que não precisa do melhor carro do ano, do melhor celular, de 230
canais, de milhares de seguidores, do melhor corpo, da melhor companhia, da
melhor bebida, da melhor festa. O contente não é atormentado pelo que não tem.
Assim,
espero que alguns de nós possamos aprender o caminho!
Ivo Fernandes
24 de setembro de 2015
(O texto em itálico é de
autoria de Caio Fábio)
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