Juntos no fim do mundo
Comecei a usar a expressão
#juntosnofimdomundo, primeiro com meus familiares e depois com meus amigos, em
nossos grupos virtuais, mas não como uma brincadeira, apesar de brincarmos sempre,
mas como uma sentença, não necessariamente apocalíptica, mas existencial.
Sim, tudo que está
acontecendo no mundo inteiro está servindo, pelo para alguns, para entenderem
que o mundo como nós conhecemos e o qual reproduzimos não é mais possível. É preciso
chegar ao fim de um tempo para que outro se inicie. E à medida que os dias
passam todos ficamos sabendo que o mundo acabou.
E o mundo já acabou outras
vezes, e novos tempos já surgiram. Qualquer um que se aventurar pela leitura da
história verá. Um mundo leva muito tempo para acabar, alguns duraram milênios,
mas o fato é que todos os mundos acabam um dia. E alguma geração será a que
viverá os tempos do fim.
Nós somos a geração que está
vivendo algo singular, pelo menos nos últimos 100 anos. É claro que muitas doenças
já nos afetaram nesse tempo, e até bem mais letais que essa, mas nenhuma delas
pôs início ao fim do mundo. Deu de ser uma bem mais simples a nos ensinar que nós
somos frágeis. Nesse exato momento mais de 15.000 mortes já foram registradas,
fora os milhares que não passaram por esse registro. Mas, nós somos também uma
espécie muito forte, e nossa força nunca esteve em nossos músculos, ou somente
na nossa capacidade racional, nossa força sempre foi a nossa capacidade de
trabalharmos juntos.
No primeiro texto da
quarentena, falei que solidariedade nos salvará, e agora é a condição expressa
no termo - juntos - que mudará a nossa realidade de fim de mundo. No meu nono
dia de confinamento aprendi tantas coisas, e senti tantas outras. E o que já
era importante passou agora ser a única coisa importante. Só temos uns aos
outros, é isso que importa.
Não é o estado, a economia,
a religião, ou qualquer outra instância social que importa, o que realmente importa
é ficarmos juntos, todos. E que essas instâncias sejam usadas para o bem comum
e não para aprofundar nosso afastamento. O individualismo é a marca desse mundo
que está terminando.
O novo mundo precisa começar
com o #juntos. Essa é a única maneira do que virá ser melhor do que está indo.
Eu quero a cada dia do novo mundo jamais esquecer o #juntos. Se for me dada a oportunidade
de viver no novo mundo, eu vou semear mais abraços, mais beijos, mais amor,
mais unidade, mais coletividade, mais respeito, e lutar contra tudo o que favorecer
o benefício apenas de alguns.
Utopia demais? Talvez, mas
sou poeta e filho de profetas, nasci para viver de sonhos e por eles lutar.
Estou junto de quem amo, com uma podendo trocar abraços, e com os outros,
podendo todo dia, mediado pela tela de um celular, dizer o quanto são importantes
para mim.
Que venha o novo mundo, e
que a gente saiba torná-lo melhor do que este que está acabando.
Ivo Fernandes
24 de março de 2020 ( 9° dia
de confinamento)
Comentários