Deus está distraído?


Assisti o filme “O Bombardeio” (2021), do diretor dinamarquês Ole Bornedal, e ele já entrou para a lista dos filmes que me emocionam pela qualidade da produção, atuação, direção, mas acima de tudo por me fazer pensar e sentir.

Sobre o que ele me fez pensar? Sobre a guerra, a humanidade, Deus e nossa frágil, porém insistente, esperança e fé.

A frase que para mim faz elo é dita pela noviça Teresa... “Deus nunca dorme, mas pode se distrair” e no fim, por Rigmor, com a pergunta: “Deus deixou um lápis cair?”, pois, diante dos horrores da guerra, como manter a crença? A mera atribuição de culpa ao homem, como única explicação para tamanha miséria nunca me foi suficiente. No fundo eu nunca acreditei nas explicações que boa parte da teologia me deu. Como Teresa, sempre me vi entre a vocação e as questões filosóficas que espreitavam minhas crenças. 

Coincidentemente, no dia anterior, numa conversa sobre o suicídio com alunos, depois de alguns relatos, uma aluna me perguntou se eu acreditava em Deus. Preciso confessar nunca me foi fácil crer no Deus da minha religião, mas tão difícil quanto é negar Deus e a possibilidade do sentido e da beleza. 

O filme traz para perto de mim que estou longe dos atuais ataques de guerra os horrores de tudo isso. A guerra não faz sentido na medida que nega a beleza do mundo. Quem ganha com uma guerra? Quem paga realmente com sua vida por uma guerra? 

Ali estava a revelação, jovens perdidos promovendo a morte de 104 pessoas, sendo 86 crianças com o lançamento de bombas contra a Escola Francesa em Copenhague, em 21 de março de 1945. Foi um erro? A guerra é o erro!

Voltando à pergunta da minha aluna, fiquei pensando nela o dia inteiro. Na manhã do outro dia, numa conversa que já virou ritual com minha mulher, falei sobre o tema. Dela retirei algumas conclusões sobre minha crença e fé. Eu acredito em Deus, porque acredito na Beleza que dá sentido ao cosmo, mas não creio em Deus que esteja a controlar todos os passos da história, do contrário, teria que assumir para o bem da minha alma que ele se distrai e por isso as guerras e a morte de crianças. 

O filme me ajudou a entender a Beleza presente na ação das crianças, na crise de fé da noviça e na relação dela com o soldado. Sim! Eu acredito nos homens apesar deles. A amizade entre Rigmor, Eva e Henrik, exalta a beleza que resiste mesmo em tempos de guerra.

Espero que nesses tempos todas as pessoas que estão em guerra encontrem a Beleza que as salvará!


Ivo Fernandes

12 de março de 2022

Comentários

Postagens mais visitadas