Sobre a crítica bíblica
Qualquer
pessoa que leve a sério o estudo das escrituras não poderá mais se esquivar dos
conteúdos das demais ciências, como arqueologia, história, sociologia,
antropologia, etc.
Não
podemos mais ler as escrituras de maneira mágica, esotérica ou como se o livro
tivesse descido do céu, como que escrito pelo próprio dedo de Deus. Precisamos
respeitar a história da transmissão textual, com toda a sua evolução.
O estudo
da história e da crítica textual da bíblia se justifica, principalmente, pela
perda de muitos dos códices, os “originais” dos autores. Atualmente, existem
cerca de cinco mil manuscritos, sendo que perto de cinqüenta e três contêm todo
o Novo Testamento. A situação do Novo Testamento é muito melhor que a de todos
os escritores antigos. Da maioria deles temos manuscritos somente a partir do
século IX d.C., e assim mesmo em número bem reduzido. Do Novo Testamento temos
dezessete manuscritos do século IV e vinte e sete do século VI. Temos ainda
citações encontradas em escritores do século II. Isso quer dizer que entre os
originais e as cópias temos a distância de uns 300 anos apenas.
A crítica
bíblica (textual, literária e histórica) não tem a intenção de negar o que está
na Bíblia, mas sim de conduzir o pesquisador a uma observação mais acurada de
seu conteúdo, das diversas traduções sofridas pelo texto, com o intuito de
analisá-la sob o ponto de vista histórico, e não apenas religioso.
Todos os
que temem a crítica revelam a fragilidade de seus dogmas, fundamentados apenas
na autoridade religiosa das instituições. Alardeiam que tal forma de estudo
bíblico conduzirá o crente a negação da fé. Nada mais ridículo que isso. Toda
análise textual tem um objetivo: tentar dirimir questões e incertezas.
Estudar criticamente
a bíblia e suas traduções não é questionar a fé religiosa em seu conteúdo, mas
aproximar o estudante da história e da cultura dos povos que produziram esta
coletânea de livros. Não é questionamento da fé, mas dos processos que deram
origem as formas da religião e seus códigos.
A bíblia
como livro produzido na história por diversos autores humanos não está isenta
de uma análise crítica-histórica, e só respeitando isso é que este livro nos
servirá de maneira adulta e proveitosa.
Ivo Fernandes
9 de junho de 2010
Comentários