A Palavra de Deus e as palavras dos homens
Uma
das questões que sempre voltam a respeito de meus pensamentos ou do pensamento
da Estação Fortaleza, é o que penso da bíblia. Porém a maioria das pessoas que
questionam não sabem exatamente o que estão querendo saber por possuírem uma
visão confusa e dogmática das escrituras.
Por
exemplo, antes de responder sobre a bíblia era necessário responder sobre
revelação, (a respeito deste assunto já tenho outro texto publicado em meu
blog, Revelação). Fato é que a crença reformada está alicerçada no entendimento
de que a bíblia é a revelação especial de Deus, inspirada e norma suprema de fé
e prática.
No
entanto desde o movimento do humanismo renascentista, a escritura deixou de ser
a única fonte de autoridade para a teologia e outras fontes passaram a ser
abraçadas pelos teólogos. No século 20, liberais, neo-ortodoxos e pentecostais
passaram a utilizar outros critérios, como a razão, a experiência e a filosofia
existencialista.
O
conceito reformado de revelação mostra a bíblia como expressão exata da Palavra
de Deus, que é sua própria revelação. É o que podemos chamar de pensamento
ortodoxo a respeito das escrituras. Trata-se de uma forma objetiva, afinal a
questão está posta no texto. Com isso o poder sobre a palavra está nos cânones,
concílios, etc. pois em sendo objetivo é preciso delimitar o que chamarão de
correta interpretação das escrituras, fazendo em última instância a revelação
não está somente atrelada ao texto, mas a igreja, como instituição competente
para interpretar corretamente as escrituras.
Aqui
mora o grande esquema e problema por trás dessa visão. Não se trata mais de um
caminho espiritual, mas institucional, a menos que garanta que a própria
instituição é sagrada como pensa o catolicismo. Do contrário é necessário
libertar o texto da força da instituição e do controle da mesma, como quis
Lutero, mas que só veio a ser possível pós-liberalismo teológico.
Está
aqui o nosso entendimento - a Bíblia torna-se a Palavra de Deus, quando esta
comunica ao homem o Evangelho, e por este homem é recebida interiormente e
existencialmente. Logo é impróprio confundir o texto bíblico com a Palavra de
Deus, sendo composição de palavras dos homens, e enquanto palavras dos homens
tem falhas e erros.
Porém
assumir que a bíblia contém erros não diminui seu caráter comunicador da
Palavra. Cabe a cada geração redescobrir a mensagem eterna dentro da bíblia e
da tradição e da história, visto que a revelação não está limitada.
E
como fica a historicidade dos fatos bíblicos? Não é ela que importa, mas o que
ela comunica. Mas dizer não importa, não se trata de retirar a pesquisa séria
sobre a mesma, mas entender que não é a informação exata de um fenômeno
histórico que valida o texto como Palavra de Deus, mas o efeito da mesmo na
vida do indivíduo. A bíblia é apenas texto se não for feita Palavra pelo
Espírito no interior do indivíduo.
É
o Espírito que é a autoridade na vida da comunidade e não a Bíblia. (E sobre
como podemos entender esse tema ler Jesus a Chave Hermenêutica).
Os
que buscam a verdade do texto, parecem ignorar todos os desafios por trás de
uma análise textual de um documento de mais de dois mil anos. O maior valor
histórico da bíblia reside no fato de que ela contém o testemunho daqueles que
participaram dos eventos reveladores. É o registro histórico de pessoas que
tiveram contato com revelações e de suas respostas a ela. A inspiração dos
escritores bíblicos é a sua resposta receptiva e criativa a fatos
potencialmente revelatórios. Assim nada contribuiu mais para a interpretação
errônea da doutrina bíblica da Palavra do que a identificação da Palavra com a
Bíblia.
A
bíblia participa da revelação na condição de documento que registra o
acontecimento da revelação de Jesus, o Cristo. Ela é uma antologia de
literatura religiosa, escrita, compilada e editada através dos séculos e é o
testemunho de como os primeiros cristãos entenderam a mensagem do evangelho.
Além
dos textos citados acima ver também:
Ivo Fernandes
8 de julho de 2015
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