A Radicalidade do Novo Nascimento
Leituras sugeridas: João 3 e Mateus 9
Nos últimos
dias algo que não é incomum ocorreu bastante na minha vida – reação as minhas
reflexões que iam de descontentamento a ódio. E é sempre interessante perceber
o quanto aborrece algumas pessoas o que eu digo, principalmente por que não sou
nenhum indivíduo que chama atenção para nada, muito menos para mim. Porém a
questão não é o que eu digo, mas a possibilidade de alguém pensar que o seu
conjunto de crenças, que ela confunde com fé, estar errado, aí na tentativa
desesperada de manter o castelo ideológico, tudo será possível.
Postura como
essa está em todo lugar, mas em especial na religião, desde a frase antiga que
ouvia quando criança “nasci católico e vou morrer católico” até as ameaças que
certos ‘evangélicos’ fazem a quem contraria suas lógicas.
No entanto
analisando a reação de alguns que frequentam a estação do Caminho, percebo o
quanto é difícil se libertarem dos velhos esquemas. Sim! Porque se vem até a
estação é porque buscam algo, mas quando descobrem que não se pode colocar pano
novo em veste velha, nem vinho novo em odre velho, então todo seu ser reage,
porque não desejam abrir mão do que já se cristalizou dentro dele como verdade.
Ou seja, não
é fácil fazer morrer o velho homem, não é fácil a conversão, não é fácil o
largar tudo, não é fácil o negar a si mesmo, não é fácil nascer de novo. O Evangelho
nos convida para algo radical.
Por isso no
lugar da proposta do Evangelho inventamos um conceito religioso, um jeito de
não mergulharmos, fizemos o que Jesus disse que não seria bom – apenas
reformamos o velho.
Não abrimos
mãos de nossos esquemas, eles permanecem a base do que pensamos e fazemos,
então como farsa do novo nascimento, associamos conversão, com mudança de
religião, mesmo que a forma seja a mesma, daí, na história cristã ser bem
colocado o termo – reforma, pois de fato é uma re-forma; ou seja: um re-fazer
da forma.
E quais os
resultados de uma reforma, mudanças de linguagem, aparência, representações,
discursos. Apenas o exterior é limpo, ou renovado, tudo aquilo que podemos
classificar como essencial permanece igual.
Assim
qualquer um que caminhe entre nós e venha com o mesmo espirito de reforma, se
frustrará ao perceber que não somos costureiros de remendos, somos bebedores de
vinho novo que não se esquivam de arrebentar com odres velhos e de estimação.
Não estamos brincando de massinha, mudando formas. Afinal nosso problema não é
com forma, podemos inclusive ter as mesmas que qualquer outro grupo religioso.
Não é pelo fato de termos orações coletivas, músicas com temas religiosos,
cruz, espaço para reunião, organização, bíblia e contribuição financeira (tudo
isso é forma) que somos iguais a qualquer ‘igreja’ que tenham essas coisas,
pois nossa radicalidade é não fazer da forma coisa alguma, senão apenas forma.
Nossa questão é o que está dentro do odre, nossa questão é o novo, é o vinho
novo.
Por isso não
somos da reforma protestante, nem temos pretensão alguma disso, somos um
movimento de liberdade e de livre exame. Assim não nos encaixamos na crítica
que nos pensa como uma igreja evangélica light.
Não cremos
que reformas promovam o novo, pois é contra a sua natureza. A reforma seja de
que tipo for mantém velhos esquemas morais e só serve para alternância de
poder.
Basta
olharmos nosso país e essa onda de evangélicos fundamentalistas na política e
nas mídias sócias, o que há de novo no que fazem? Nada!
Jesus nunca
quis fazer Reforma. A radicalidade do chamado de Jesus é o novo nascimento, não
o nascimento espirita kardecista ou seus semelhantes, onde se nasce marcado por
carmas, ou por realidades passadas, de novo isso seria o pano novo no remendo
velho. Mas de fato um novo nascimento.
Jesus diz aos
Nicodemos: Importa-vos nascer de novo! Mas eles não entendem. São presos a
esquemas, não conseguem aceitar a liberdade do Espírito, por isso sempre julgam
tudo e a todos de acordo com suas lógicas moralistas, tão cegos que nem
percebem que se condenam naquilo que aprovam. São mestres das escrituras, mas
só conhecem o texto morto, controlados por hermenêuticas e exegeses
específicas, logo não aceitam nada. Em seus estados negam a própria vida. Sim
eles não conseguem compreender mais nada, nem mesmo o óbvio – como
compreenderão as coisas celestiais?
Nascer de
novo – único caminho possível para que homem viva a realidade do Reino de Deus.
E afinal o que significa nascer de novo? Primeiro é preciso dizer que responder
essa pergunta é extremamente perigosa, pelo fato da captação do discurso e a
transformação dele num método, que manterá os velhos esquemas, por isso que
Jesus raramente responde uma pergunta nos critérios que se espera, para que
jamais usem a novidade do Evangelho como remendo.
Assim o que
posso dizer de nascer de novo? Posso dizer que nascer de novo implica em um
‘de’ e em um ‘para’. Quando se nasce, nasce-se de alguém e a este está
atrelado, dependente, seremos fruto deste que nos origina, assim nascer de novo
significa romper com as autoridades antigas que nos regiam. Daí o chamado do Evangelho
para deixar, pai, mãe, família. Só se nasce de novo cortando esses laços.
Nasce-se agora da água e do espirito! Que maravilha, água e espírito é a
negação da forma. Nasce-se de novo quando rompe com a lógica das formas. Não se
trata mais de ser católico, evangélico, espírita, religioso ou não, trata-se de
ser outro. Deixa-se a carne (forma) e nasce do espirito (novidade essencial). E
como se faz isso? Pela fé e não pelas crenças que são formas. Mas também se
nasce de novo ‘para’ algo. Nasce-se de novo para revelar o novo, para
manifestar a verdade, para a luz. Assim todo mecanismo que repita os mesmos
esquemas, e que só tenha mudado a superfície é engano, mentira, trevas.
Desta forma
importa-vos nascer de novo. Esse é o caminho dos caminhantes, essa é sua meta,
missão, propósito dar nascimento a si próprio, ou seja, ser de Deus por ser
nascido Dele.
Mas se ainda
perguntam, mas como? E a bíblia? E isso? E aquilo? O que lhes dizer: Ah!
Nicodemos vocês não compreendem nem as obviedades da existência como
compreenderão coisas eternas?
Ivo Fernandes
21 de junho de 2015
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